terça-feira, 18 de novembro de 2008

Onde está a verdade?

Hoje eu vi um exemplo absurdo de como o jornalismo pode ser uma verdadeira cadeira elétrica para inocentes – ou um túnel de fuga subterrâneo para culpados. Depende do ponto de vista.

E o problema está exatamente aí – jornalismo NÃO É ponto de vista. Jornalismo é reportar o fato. O fato é único, assim como a verdade. Se o profissional de jornalismo não consegue chegar ao fato e à verdade únicos é porque não é bom profissional de jornalismo.

E não me venham com esse papo de prisma, viés, verdades implícitas.

Assassinaram um ganhador da mega-sena. Fato. Foi em Limeira. Era apenas um membro de um bolão que levou 16 milhões em 2007. O principal suspeito – outro membro do bolão que não pagou sua parte e recebeu apenas um prêmio de consolação de 200 mil reais – foi descartado. O depoimento dele foi considerado “consistente” segundo a polícia.

O ganhador foi assassinado no quintal da própria casa, dentro de um condomínio de luxo em Limeira. Ninguém viu nada e os parentes que estavam dentro de casa eram a mulher e os pais do morto.

AGORA VEJAM O ABSURDO.

No Jornal da Band, a matéria ficava em cima do depoimento da viúva e dos pais da vítima, único fato novo do dia (o depoimento do cara dos 200 mil foi ontem). A notícia era: a polícia descarta a participação dos familiares. A entrevista, do investigador: “todos estavam em casa e seria absurdo pensar que os próprios pais da vítima estejam macomunados com a viúva.”

No Jornal Nacional, a chamada, na escalada, era: “cena do crime foi mexida”. Era o foco da matéria, que citava que o local foi lavado, segundo os familiares, por uma vizinha, para que uma criança de oito anos não visse o sangue. A entrevista, DO MESMO INVESTIGADOR QUE APARECEU NA BAND: “o simples fato de terem removido a vítima já caracteriza que houve uma descaracterização da cena do crime”.

Ora, se eu chego hoje ao Brasil e assisto ao Jornal da Band, fico sabendo que a famíla foi descartada pela polícia como possível suspeita. Se assisto ao JN, fico achando que a família matou o cara e lavou o local do crime.

A Globo, em nenhum momento, citou que a polícia descartou os familiares como suspeitos.

E eu fico me perguntando se o JN tinha a parte da entrevista do investigador afirmando isso...

Escola Park, lembram?