terça-feira, 18 de novembro de 2008

Onde está a verdade?

Hoje eu vi um exemplo absurdo de como o jornalismo pode ser uma verdadeira cadeira elétrica para inocentes – ou um túnel de fuga subterrâneo para culpados. Depende do ponto de vista.

E o problema está exatamente aí – jornalismo NÃO É ponto de vista. Jornalismo é reportar o fato. O fato é único, assim como a verdade. Se o profissional de jornalismo não consegue chegar ao fato e à verdade únicos é porque não é bom profissional de jornalismo.

E não me venham com esse papo de prisma, viés, verdades implícitas.

Assassinaram um ganhador da mega-sena. Fato. Foi em Limeira. Era apenas um membro de um bolão que levou 16 milhões em 2007. O principal suspeito – outro membro do bolão que não pagou sua parte e recebeu apenas um prêmio de consolação de 200 mil reais – foi descartado. O depoimento dele foi considerado “consistente” segundo a polícia.

O ganhador foi assassinado no quintal da própria casa, dentro de um condomínio de luxo em Limeira. Ninguém viu nada e os parentes que estavam dentro de casa eram a mulher e os pais do morto.

AGORA VEJAM O ABSURDO.

No Jornal da Band, a matéria ficava em cima do depoimento da viúva e dos pais da vítima, único fato novo do dia (o depoimento do cara dos 200 mil foi ontem). A notícia era: a polícia descarta a participação dos familiares. A entrevista, do investigador: “todos estavam em casa e seria absurdo pensar que os próprios pais da vítima estejam macomunados com a viúva.”

No Jornal Nacional, a chamada, na escalada, era: “cena do crime foi mexida”. Era o foco da matéria, que citava que o local foi lavado, segundo os familiares, por uma vizinha, para que uma criança de oito anos não visse o sangue. A entrevista, DO MESMO INVESTIGADOR QUE APARECEU NA BAND: “o simples fato de terem removido a vítima já caracteriza que houve uma descaracterização da cena do crime”.

Ora, se eu chego hoje ao Brasil e assisto ao Jornal da Band, fico sabendo que a famíla foi descartada pela polícia como possível suspeita. Se assisto ao JN, fico achando que a família matou o cara e lavou o local do crime.

A Globo, em nenhum momento, citou que a polícia descartou os familiares como suspeitos.

E eu fico me perguntando se o JN tinha a parte da entrevista do investigador afirmando isso...

Escola Park, lembram?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Say it loud...

Malcolm X, Martin Luther King, Cassius Clay, James Brown, Ella Fitzgerald, Miles Davis, Rosa Parks, Colin Powell, Condoleezza Rice, Howard Johnson, Aretha Franklin, Denzel Washington, Spike Lee, Michael Jordan, Magic Johnson, Allen Iverson, Bill Russell, Tiger Woods, Diana Ross, Forest Whitaker, Michael Jackson, Janet Jackson, John Singleton, Maya Angelou, Tina Turner, Will Smith, Morgan Freeman, Oprah, Prince, Whoopi, Queen Latifah, Quincy Jones, Ray Charles, Samuel L. Jackson, Spike Lee, Stevie Wonder, Jimmy Hendrix, Tupac Shakur, Barack Hussein Obama.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Socorro!

Não posso dizer que sou "nascido e criado" em Botafogo. Na verdade, nasci no Hospital da Lagoa e passei meus primeiros anos de vida na Tijuca. Fui morar lá aos cinco anos de idade. E fiquei até sair da casa dos meus pais. Botafogo é meu bairro, minha área, minha certeza de Rio de Janeiro a qualquer hora ou situação. Desde que me entendo por gente, tem aquele canteiro de obras do Metrô entre a São Clemente e a Voluntários, ali ao lado da própria estação. Aquela área está fechada há quase 30 anos. E agora vai ser reaberta.

Eis que, em mais uma queda de braço entre os governos municipal e estadual, existe ali agora um impasse. O Sérgio Cabral já mandou começar a montar os contêineres da primeira UPA - Unidade de Pronto Atendimento - da Zona Sul. O Cesar Maia, por sua vez, quer uma praça ali. Mas entende que a UPA, que pelo projeto do Governo do Estado ocupa apenas 26,6% do que seria o terreno da tal praça, é bem vinda. Logo, ao que parece, o entendimento entre as duas lideranças não parece distante.

O problema é o de sempre - a estupidez crescente da burguesia. A dona Regina, da Associação de Moradores e Amigos (?) de Botafogo, disse o seguinte, abre aspas: Esperamos 30 anos por essa praça. Ficamos esse tempo todo convivendo com aquela área degradada, sediando o canteiro de obras do metrô. Agora, o que os moradores do bairro recebem é um projeto que não pediram? Todas as áreas do metrô foram revitalizadas, menos a de Botafogo. Os moradores de Botafogo não estão sendo ouvidos. Estamos muito chateados. No Leblon, eles podem fazer uma praça maravilhosa, a Bossa Nova. Por que em Botafogo não podem?... fecha aspas.

Pior fez o senhor Eduardo Luiz, médico, síndico de prédio vizinho ao terreno, que disse textualmente ao O Globo, abre aspas: A construtora nos prometeu um prédio ao lado de uma praça urbanizada. Agora, diz que a culpa é do governador. Ninguém é contra a UPA, mas por que não a constróem perto do Morro Dona Marta, já que os moradores de lá é que serão beneficiados? Aqui estava programada uma praça. Fecha aspas.

Eu repito - esse senhor que disse isso é médico. Mas não deve conhecer o próprio bairro. Se assim fosse, saberia que, próximo ao Dona Marta, não há terreno para a UPA. Saberia ainda que 75% da população carioca não tem plano de saúde, logo, a UPA de Botafogo vai beneficiar as comunidades das favelas Santa Marta e Tabajara, mas não somente elas. Pelo jeito, esse senhor mal sabe como é o seu vizinho.

Que seja feita ali uma bela praça com os 73,4% do terreno que não serão ocupados pela UPA - cerca de 5.500 metros quadrados. Que a UPA atenda gente do Santa Marta, do Tabajara, do Rajá, da Álvaro Ramos e, até, quem sabe, dona Regina e seu Eduardo Luiz, caso um dia eles precisem. E que gente como eles, maioria nessa cada vez mais odiável burguesia carioca, morra. Pois como pode alguém de bem achar que uma praça é mais necessária que um hospital - ainda mais quando o segundo não inviabiliza a primeira? Socorro!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Boi, boi, boi...

O homem dominou o fogo, inventou a roda, foi à Lua mas ainda não descobriu exatamente porque necessita de algumas horas de sono por dia. Alguns estudiosos defendem que o sono é necessário para a fixação de memórias. Outros afirmam ser uma simples pausa necessária para corpo e mente. O exército americano já gastou rios de dinheiro em pesquisas sobre o tema, na tentativa de criar um super-soldado que não precise dormir quando no campo de batalha. Mas tudo isso fica no campo da experimentação.

O que foi provado e comprovado é que o ser humano consegue viver mais tempo sem água ou comida do que sem sono. Cinco dias, é o limite máximo, dizem. Mais que isso e você morre, sim, por falta de sono.

Minha relação com cama e travesseiro nunca foi boa. Na tenra infância, tinha medo do escuro e de dormir sozinho. Mais tarde, superado isso, passei anos tendo um sonho repetido em que fugia de um lugar escuro e, quando achava a saída, tomava um tiro no peito - noites e noites acordando suado e aterrorizado. Num belo dia, noite, na verdade, o sonho parou e nunca mais veio. Já adulto, comecei a sofrer de insônia, maldição terrível que me atormenta até hoje, de tempos em tempos. Só depois dos trinta posso dizer que consegui aprender que pode haver até prazer no ato de dormir.

O problema é quando o mundo conspira pra que você não durma. E eu não estou me referindo à insônia.

* * *

"MENDONÇA, EDUARDO! MENDONÇA, EDUARDO!"

Eu ouvi a parte do "Eduardo", meu pai a do "Mendonça". Tínha acabado de fazer meu check-in e já pensava na tortura que seria ficar quase onze horas num avião, do Rio a Paris. Depois, ainda haveria mais cinco horas até Atenas.

"O senhor foi 'upgradado'. Só lhe peço para ser discreto."

Não sei se achei mais graça na palavra que a moça da Air France inventou, no pedido dela ou na cara de felicidade do meu pai. Fato é que, por conta de um erro da agência de viagens com as passagens do câmera que me acompanharia, fomos ambos parar na classe executiva. E logo da AF. "Viagem tranqüila", pensei. "De patrão".

Bem, de patrão foi mesmo. Bolsinha com mimos. Cardápio pra escolher. Álcool de todo tipo à vontade (foram cinco garrafinhas só de vinho branco). Queijinho brie. Sobremesa. Talheres de verdade. Uau. De patrão.

Agora, tranqüila, não foi. Apesar do espaço que parecia estúpido até o passageiro da frente e dos ajustes do banco (é, banco) que mais pareciam os de um carro de luxo, o fato é que a tal posição horizontal não me permitia esticar as pernas completamente. Se eu fosse uns dez centímetros mais baixo, seria lindo. Resultado - um cochilo ou outro nas onze horas de vôo, muito mais por conta do álcool que do espaço. Verdade que meu corpo chegou muito mais descansado a Paris do que se tivesse ido de classe econômica. Mas a falta de sono mata a mente, não o corpo.

* * *

"Foda-se, vou apagar no vôo para Atenas."

Fila 8F. Um, dois, trés... ai... ai... não pode ser sério. Ao meu lado, um menino de uns cinco anos e uma menina de uns dez. Na mesma fileira, do outro lado do corredor, os pais e outro garoto, pouco mais velho que o outro. E a menina ainda ocupava o meu lugar na janela. "Ok, uma criança, deve estar amarradona de viajar na janela, eu estaria." Gosto mais da janela, pois me apoio no avião pra tentar dormir. Apesar da vantagem de poder esticar pelo menos uma das pernas no corredor, sempre fico com medo de tombar pra cima da pessoa ao meu lado.

Meia hora depois da decolagem, a tragédia - a menina troca de lugar com o outro garotinho. E eu, morto de sono, certo de que estava prestes a apagar, passo a ser privilegiado espectador de uma farra entre dois Calvins franceses, com direito a voz alta, beliscões, socos e todo tipo de brincadeira típica dessa idade entre irmãos.

Os pais? Cagando. Para eles, para mim e para todos os outros passageiros, que olhavam a cada grito mais estridente ou choro. Porque, às vezes, os socos pareciam mesmo machucar.

Ligo o foda-se e penso em pegar o PSP. Desisto ao imaginar a possibilidade dos moleques me encherem ainda mais o saco pedindo pra ver ou jogar. Pior ainda seria se eu tivesse que trocar qualquer palavra com os pais, a quem já xingava há algum tempo. Tempo que não passa. Sono que mata. E barulho. Com sotaque francês. Puta que o pariu. Os nervos começam a aflorar. Péssimo isso. "Vou acabar perdendo a paciência", penso.

Bem, sempre pode ficar pior.

Chega a hora do almoço. E, para meu espanto, para minha estupefação, nenhum pai se mexe. Nada. Deixam que sirvam as bandejas para dois moleques de cinco e seis anos se virarem sozinhos num avião.

Na primeira, eu até ri. O mais velho tapou o nariz do mais novo e, quando esse abriu a boca, tascou-lhe um saquinho inteiro de sal goela abaixo. Quando o sal virou ketchup, comecei a me preocupar. Calça clara, camisa branca... "se esses moleques me sujarem, vou xingar muito esses filhos-da-puta desses pais." Nada acontece. Mas depois do ketchup, começa a guerra da manteiga. Nojento. Mas não me sujam, então fico quieto. Quieto e com sono até Atenas.

* * *

Poucas horas depois da chegada, já estou no ginásio, agitando credenciamento (que, como tudo o mais nessas viagens, apresenta pepinos que tenho que resolver). Já são umas 36 horas sem dormir. Olhos vermelhos pelo motivo errado. Pálpebra pesada. Eu quero cama, a qualquer custo.

Umas seis horas mais tarde, enquanto meu companheiro de quarto vai pro banho, eu finalmente caio na cama. Caio não, desabo. Apago imediatemente e nem o vejo sair do banho. Eram onze e meia da noite.

À meia-noite e vinte eu acordo. "Meu Deus, EU NUNCA VI NINGUÉM RONCAR ASSIM..." Nunca. E olha que, em Sydney, eu dividi quarto com um cara de um metro e noventa e cento e vinte quilos que conseguia roncar até de bruços. Aqui, o próprio roncador avisou antes, mas eu não levei fé. Tentei, em vão, até três e pouco da manhã, dormir. Tentei os tapa-ouvidos do avião... Tentei o iPod - que ficava baixo mesmo no volume mais alto diante do ronco dele... isso sem falar que o cara, muito gente fina, tem apnéia do sono, então não se trata apenas do volume mas também da forma do ronco - parece que ele vai se sufocar ou engasgar às vezes, uma coisa horrososa de irritante. Nervos testados durante três horas. "Meu Deus, serão mais seis noites, tô fodido..."

Às quatro da manhã eu me rendo. Pego o colchão e lençol e me tranco no banheiro, que, para minha sorte, é bastante grande pra isso. Mas, mesmo lá, mesmo com os protetores de ouvido, eu ainda ouvia o seu ronco ao longe... uma coisa impressionante.

Acordo às sete com ele tentando forçar a porta do banheiro, que não abre por conta do colchão alto. Claro, fica super constrangido quando explico a situação. Eu fico um pouco menos quando ele me conta que a ex-namorada dizia que, se um dia casassem, dormiriam em quartos separados. Foram só três horas de sono, depois de praticamente quarenta e duas acordado. Me sinto um caco, o último ser humano da terra. E parto para meu primeiro dia de trabalho, que iria durar das sete... às três da manhã do dia seguinte.

Penso nos experimentos do exército americano com soldados. Penso em espancar o primeiro grego que falar alto perto de mim. Penso em matar um panda ou qualquer outra coisa bela. Me irrito com qualquer coisa e comprovo na carne como o sono mexe muito mais com o sistema nervoso central que com a própria carne. Penso num banco de praça, com jornal quentinho... penso nos meus sábados em que durmo até meio-dia... e aí vejo que estou começando a parar de pensar. Penso que vou entrar em pane.

Abençoados os que dormem bem. Abençoados os que pegam no sono rápido. Abençoados todos os dorminhocos, coalas, gatos e prequiças do mundo. Mas, acima de tudo, que seja abençoada a alma boa que trocou de quarto e dormiu ontem na cama ao meu lado.

Sem roncar.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Conto de fadas verde.

Eu tive a felicidade de ter duas paixões que improvavelmente acabaram sendo do mesmo tamanho e importância em minha vida - o Flamengo e o Chicago Bulls. Pra muitos, isso pode parecer uma quase heresia. Mas não pra mim, que amo basquete e tive a sorte de acompanhar a carreira de um tal MJ desde o início. Só eu sei como foi bom comemorar cada um dos seis títulos dos Bulls. Uma época de ouro, em que meu ídolo vestia sua capa de super-herói e simplesmente jamais me desapontava (ok, estou descontando a meia-temporada logo após o retorno de sua aventura nos campos de beisebol).

Depois que Ele parou eu continuei torcendo pelos Bulls com o mesmo ardor, mas jamais com a mesma alegria. Os jogos na tv rarearam, as vitórias escassearam, quando parecia que o time começaria a dar a volta por cima, nesse ano, a casa caiu... ok, ok, temos a primeira escolha no draft na semana que vem e, venha Beasley ou Rose (prefiro o último), as coisas tendem a melhorar. Mas isso tudo é só pra dizer uma coisa - a conquista do Boston Celtics, nessa semana, me fez reviver sentimentos que não tinha desde 1998, ano do último título em Chicago.

Eu confesso: torci. Torci muito. E não torci porque odeio os Lakers e desprezo o Kobe. Torci pela felicidade alheia. Torci por causa de vários nomes. Garnett. Allen. Pierce. Rondo. Até Powe.

Esse título dos Celtics foi conquistado por conta não de táticas, Xs & Os ou mesmo talento. O time dos Lakers, pra mim, ainda é mais equilibrado. Mas não teve, em momento algum, o mesmo desejo, o mesmo tesão. Ninguém queria mais essa conquista que Garnett, Allen e Pierce. Foi na base do desejo, da paixão genuína, que esses caras venceram.

Pra entender isso, basta entrar na página da espn e buscar dois vídeos imperdíveis. Num, Michelle Tafoya entrevista os três craques juntos (http://sports.espn.go.com/broadband/video/videopage?videoId=3450943&categoryId=3419075&n8pe6c=2). No outro, Garnett bate um papo com o Senhor Bill Russell (http://sports.espn.go.com/broadband/video/videopage?videoId=3450593&categoryId=3419075&n8pe6c=2). Um mais emocionante que o outro.

Como essa conquista. Sob o perigo de parecer piegas, posso afirmar que foi a história mais bonita que já vi no basquete. Pois enquanto nos títulos dos Bulls era a obsessão de um homem que puxava outros onze, desta vez, foi a paixão de um trio por um objetivo único que elevou todo um time. E, como o próprio Paul Pierce disse, essa mentalidade em Boston mudou da noite para o dia por conta da chegada do Garnett.

Por isso foi tão emocionante. Por isso foi tão mágico acompanhar os momentos depois da comemoração quanto dos jogos em si. Ficar feliz pela felicidade desses caras.

O desejo é a força que move a vida. Eles simplesmente desejaram esse título mais que os Lakers ou qualquer outro time.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O imponderável

A verdade é que teve mesmo muito oba-oba. E coisa séria assim não pode ser tratada na base do oba-oba.

A verdade é que até o primeiro gol dos caras, não tínhamos chegado uma única vez com perigo.

Assim como é verdade que o chute fraco desviou na zaga e só por isso matou o Bruno. Acaso 1x0.

É fato que o tal do Ochoa, que lá no México tomou quatro, hoje pegou tudo, até uma cabeçada à queima-roupa do Souza, depois da bola quicar no chão, numa defesa de almanaque.

E a verdade é que o Souza não é atacante do nível do Flamengo. Porque atacante de nível não perderia o gol nessa cabeçada e, MUITO menos, na chance que teve ainda no primeiro tempo, a dois metros do gol, chutando a bola nas alturas. Souza não faz gol desde março, essa é a verdade.

Verdade também que teve um pênalti escandaloso em cima do Ibson que o juiz, a cinco metros e de frente pro lance, não deu.

E que o Bruno saiu mal, horrorosamente mal no segundo gol deles, falha coletiva da defesa, que voltou lentamente e permitiu o contra-ataque.

Olha que verdade assustadora - depois desse segundo gol, os caras tiveram DUAS boas chances... uma, ainda no primeiro tempo!

E a triste verdade é que o Tardelli teve duas chances quase dentro da pequena área, uma de cabeça e outra de perna direita. Nas duas, havia um mexicano na frente...

Além dessas duas chances, o Flamengo ainda teve outras três, claras, de marcar...

A verdade que todo mundo sabe é que quem não faz leva. E a cobrança de falta tosca matou o Bruno por conta do desvio na barreira. Acaso 2x0.

Ah, sim, ainda não tivemos o Fábio Luciano, logo hoje. Acaso 3x0, placar final.

Depois do terceiro deles, Juan foi expulso de forma estúpida, como é praxe desse time. E aí o jogo acabou.

A verdade é uma só - o Flamengo, por algum motivo, não tinha em seu destino vencer esse jogo. São coisas do futebol que eu já aprendi faz tempo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

The Bigg Dizzle Sheezle Snoop D.O. double G.

Snoop Dogg faz música que bota pra dançar quem não sabe dançar, só pular como louco com bom e velho e rápido e pesado rock.

http://youtube.com/watch?v=j_PvPSMz0WE

Há algum tempo todo disco novo dele tem umas três pérolas assim. O novo, Ego Trippin é assim, tem também as ótimas Press Play e Been Around Tha World, além da sensacional My Medicine, um verdadeiro country com Snoop c-a-n-t-a-n-d-o numa homanagem a, meu Deus, Johnny Cash. Impagável. Todas com letras ezzzzpertas, como ele diria.

Só que, há algum tempo, todo novo disco tem lixo como Sexual Eruption, que deve tocar até cansar em rádio e noite, porque a batida é um verdadeiro cliclete. Aí o disco vende.

E quem não conhece quão bom é o som soul do Snoop mais velho, acha que tudo é uma merda.

Mas é só ver o clipe pra saber que nem ele se leva a sério nessas horas...

http://youtube.com/watch?v=pKz-RXSeIYA

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Tic.

Tem momentos que nos são tão especiais, por mais simples ou tolos que pareçam, que é quase impossível explicar a outra pessoa ou, pior ainda, contar através das palavras.

Eu assistía agora ao primeiro tempo da decisão da NCAA, entre Kansas e Memphis (Derrick Rose, eu disse primeiro, 7/4/08), na ESPN, com SAP ligado, claro. Na narração, Brad Gilbert, o melhor de todos pra mim.

Eis que, enquanto as câmeras passeiam pelas arquibancadas no intervalo, mostrando personalidades e atletas presentes no ginásio, surge a figura de Bill Russell.

Pra quem não sabe nada de basquete, é fácil definir o Senhor Russell - é o maior vencedor da história nesse esporte.

O Senhor Russell jogava com uma elegância - numa posição onde essa é qualidade rara - que manteve depois de pendurar seus Chuck Taylors. Hoje ele tem 74 anos.

Pois não é que, segundos depois de as câmeras o mostrarem, enquanto Brad Gilbert desfilava elogios a ele, o Senhor Russell leva um de seus gigantescos dedos da mão direita ao nariz e solenemente tira uma meleca (com direiro ao movimento casado com o polegar na seqüência).

Corte para outra câmera, imediatamente.

No sofá da minha sala, um sorriso. Como os que me vêm ao rosto nas brincadeiras do meu avô.

Na tv, silêncio. Brad segue falando sobre o jogo e apenas solta uma leve risada, daquelas que damos quando estamos rindo de um grande amigo ou de alguém que respeitamos ou admiramos muito.

Quem sabe, um dia, um engraçadinho não bote esse momento no YouTube.

Aí todos vão ver como, até pra tirar uma meleca, o Senhor Russell está numa classe única.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aldeia Global

All I want is the best for our lives my dear,
and you know my wishes are sincere.
Whats to say for the days I cannot bare.


A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.

A Sunday smile and we felt true. (and)


We burnt to the ground
left a view to admire
with buildings inside church of white.
We burnt to the ground left a grave to admire.
And as we reach for the sky, reach the church of white.


A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.

A Sunday smile and we felt true. (and)


"A Sunday Smile"

quarta-feira, 12 de março de 2008

Salve(m) a Sálvia (malditos ianques)

"O corpo esmagado da menina jazia espalhado na calçada, um dia depois de mergulhar do quinto andar de um prédio de apartamentos em Chicago. Todos disseram que ela tinha se suicidado, mas, na verdade, foi homicídio. O assassino foi um narcótico conhecido na América como marijuana e na história como haxixe. Usado na forma de cigarros, ele é uma novidade nos Estados Unidos e é tão perigoso quanto uma cascavel."

Começa assim a matéria "Marijuana: assassina de jovens", publicada em 1937 na revista American Magazine. A cena nunca aconteceu. O texto era assinado por um funcionário do governo chamado Harry Anslinger.

Pouca gente sabia, entretanto, que a mesma planta que fornecia fumo às classes baixas tinha enorme importância econômica. Dezenas de remédios – de xaropes para tosse a pílulas para dormir – continham cannabis. Quase toda a produção de papel usava como matéria-prima a fibra do cânhamo, retirada do caule do pé de maconha. A indústria de tecidos também dependia da cannabis - o tecido de cânhamo era muito difundido, especialmente para fazer cordas, velas de barco, redes de pesca e outros produtos que exigissem um material muito resistente. A Ford estava desenvolvendo combustíveis e plásticos feitos a partir do óleo da semente de maconha. As plantações de cânhamo tomavam áreas imensas na Europa e nos Estados Unidos.

Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. Foi aí que Henry Anslinger surgiu na vida pública americana – reprimindo o tráfico de rum que vinha das Bahamas. Foi aí, também, que a maconha entrou na vida de muita gente - e não só dos mexicanos. Anslinger foi promovido a chefe da Divisão de Controle Estrangeiro do Comitê de Proibição e sua tarefa era cuidar do contrabando de bebidas. Foi nessa época que ele percebeu o clima de antipatia contra a maconha que tomava a nação. Clima esse que só piorou com a quebra da Bolsa, em 1929, que afundou a nação numa recessão. No sul do país, corria o boato de que a droga dava força sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam insinuações de que a droga induzia ao sexo promíscuo (muitos mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano médio, mas isso não tem nada a ver com a maconha) e ao crime (com a crise, a criminalidade aumentou entre os mexicanos pobres, mas a maconha é inocente disso). Baseados nesses boatos, vários Estados começaram a proibir a substância. Nessa época, a maconha virou a droga de escolha dos músicos de jazz, que afirmavam ficar mais criativos depois de fumar.

Anslinger agarrou-se firme à bandeira proibicionista,batalhou para divulgar os mitos antimaconha e, em 1930, quando o governo, preocupado com a cocaína e o ópio, criou o FBN (Federal Bureau of Narcotics, um escritório nos moldes do FBI para lidar com drogas), ele articulou para chefiá-lo. De repente, de um cargo burocrático obscuro, Anslinger passou a ser o responsável pela política de drogas do país. E quanto mais substâncias fossem proibidas, mais poder ele teria. Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo: aditivos para combustíveis, plásticos, fibras sintéticas como o náilon e processos químicos para a fabricação de papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o cânhamo. Seria um empurrão considerável para a nascente indústria de sintéticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destruídas, tirando a fibra do cânhamo e o óleo da semente do mercado.

Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidadão Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse ódio talvez se devesse ao fato de que, durante a Revolução Mexicana de 1910, as tropas de Pancho Villa (que, aliás, faziam uso freqüente de maconha) desapropriaram uma enorme propriedade sua. Hearst era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel. Ou seja, ele também tinha interesse em que a maconha americana fosse destruída – levando com ela a indústria de papel de cânhamo.

Hearst iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas matérias sobre a droga, às vezes afirmando que a maconha fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas. Foi Hearst que, se não inventou, ao menos popularizou o nome marijuana (ele queria uma palavra que soasse bem hispânica, para permitir a associação direta entre a droga e os mexicanos). Anslinger era presença constante nos jornais de Hearst, onde contava suas histórias de terror. A opinião pública ficou apavorada. Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha, "algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos". Os deputados votaram pela proibição do cultivo, da venda e do uso da cannabis, sem levar em conta as pesquisas que afirmavam que a substância era segura. Proibiu-se não apenas a droga, mas a planta.

O homem simplesmente cassou o direito da espécie Cannabis sativa de existir.

segunda-feira, 3 de março de 2008

É Natal.

Eu vi o Brasil ser campeão do mundo na Coréia. Eu vi o Guga conquistar a Masters Cup em Lisboa. Eu vi as olimpíadas de Atenas, eu vi muitos jogos emocionantes no Maraca, eu conheci verdadeiros mitos do esporte ao longo desses quinze anos. Mas costumo dizer que meu maior prazer, minha maior satisfação na carreira foi, num belo dia, estar saindo do banheiro e ver, no corredor ao lado da redação, uma rodinha de umas vinte pessoas O cercando, isso lá pelas oito da manhã... e então, quando me aproximei e o olhar Dele cruzou o meu, veio o cumprimento, o sinal de reconhecimento que fez nada mais no mundo importar por um bom tempo.

Parabéns, Galinho. E obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado por tanta coisa.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Hitler; Stalin, Mussolini, Pol Pot e Pinochet; Suharto, Franco, Fidel e Saddam; Ceausesco e... Chávez?

Qual o real conceito de ditadura, essa é a grande questão.

Hitler foi o responsável direto pela morte de seis milhões de judeus. Mas seu ideal totalitário não chegou ao poder com um golpe de Estado.

Então, de uma maneira ou de outra, afirmar que não há uma ditadura na Venezuela porque Chávez não deu um golpe, foi "eleito pelo povo", é a visão de um só prisma do conceito. E todo conceito tem muitos.

Na Venezuela, as eleições são um eufemismo. Nem seria preciso um partido único e oficial. Chávez tem formas mais sutís de minar o sistema em prol da manutenção de seu poder. Ele usa o próprio mecanismo da democracia formal para isso. Mas nem sempre dá certo.

Vejam só: Chávez propôs à população, em plebiscito, (a) a manutenção da democracia ou (b) a adoção de uma nova Constituição, de caráter totalitário, que, se aprovada, daria a ele o poder ditatorial e vitalício.

???

E Chávez não é um ditador? Onde?

Perguntar a um povo se ele deseja ceder seus poderes constitucionais a alguém é um absurdo conceitual. As consultas em plebiscito são legítimas quando arbitram conflitos ou questões dentro da própria sociedade – como o desarmamento por aqui - e, nunca, nunca na história do mundo, para transferir poderes fundamentais do povo para seu governante.

Como bom ditador, a primeira reação de Chávez foi negar a derrota. A segunda, inevitável, admití-la. A terceira, previsível, afirmar que "realizaria nova consulta ao povo assim que possível".

A vitória do NÃO na Venezuela se deu por apenas 1,5%. O alto índice de abstenção - 44% - se deveu, em grande parte, ao pouco comparecimento às urnas do venezuelano morador de regiões pobres e cidades do interior, os maiores redutos de Chávez. E onde o ditador mais gasta grana do petróleo levando eleitores no colo até os pontos de votação. Mas não deu. Ele se fodeu porque esse venezuelano tá na merda há nove anos, tempo em que ele está no poder. E, pra ele, tudo só piorou.

Foram quatro "eleições" nesse período. Em 2002, Chávez foi vítima de uma tentativa de golpe de estado. O então ministro da Defesa, Raúl Baduel, foi quem garantiu a manutenção dele no poder. Mas Baduel agora preferiu aderir à campanha do NÃO para impedir a legitimação pelas urnas de uma ditadura.

Meu prisma preferido sobre a ditadura?

Bem, os assassinatos dos jornalistas Mauro Marcano e Jorge Tortoza, opositores do governo de Chávez, continuam sem solução.

A nova lei de imprensa do país pune com o fechamento imediato qualquer meio de comunicação que transmita "conteúdos contrários à segurança nacional". E cadeia.

(O texto da lei, quase inacreditável, está em http://www.asambleanacional.gov.ve/ns2/leyes.asp?id=559. Só um pedacinho: "Artículo 147. Quien ofendiere de palabra o por escrito, o de cualquier otra manera irrespetare al Presidente de la República o a quien esté haciendo sus veces, será castigado con prisión de seis a treinta meses si la ofensa fuere grave, y con la mitad de ésta si fuere leve.")

Chávez ainda fica no poder até 2013, se os americanos deixarem. Mas serão no máximo mais cinco anos para ele tombar, como vai tombar Fidel em breve e como tombaram todos os ditadores.

E pensar que se o SIM tivesse ganho, talvez os netos dos que agora votaram ainda estivessem sob o poder do ditador, daqui a, hmmm, q-u-a-r-e-n-t-a anos. Que tal? Nascer ou morrer sob uma ditadura?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Eles não aprendem - e assim, não poderão jamais ensinar...

É chegada aquela época odiável do ano, em que legitima-se todo tipo de excesso por conta do carnaval.

De hoje até a quarta de cinzas, pode-se beber além da conta, pular sem senso do ridículo, tirar a roupa de todas as formas, exibir o corpo na tv, no sambódromo, no baile (que vai estar na tv, pra qualquer criança ver e perguntar pros pais depois como um homem pode ter peitos e parecer mulher...), pode-se ser promíscuo à vontade, drogar-se à vontade, transar-se à vontade, enfim, pode-se tudo, pois é carnaval.

Só não pode-se mostrar judeus mortos e Hitler na avenida.

A "justiça" vetou carro alegórico da Viradouro sobre o Holocausto, que mostrava corpos empilhados e teria um Hitler como destaque. Não sei e nem quero saber o contexto disso dentro do desfile, pois nem vem ao caso.

Como assim a justiça vetou?

Vetou porque foi um pedido da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro. Aquele monte de judeus ricos pra caralho se que reúnem na mansão ali do Alto Leblon pra tratar de assuntos importantes como esse e fazer festinhas com putas - não-judias, claro.

A Viradouro soltou nota afirmando que o carro tinha o objetivo de "lembrar que o extermínio pode ser a conseqüência do preconceito, da intolerância, do desrespeito à diversidade".

Enquanto isso, um tal Sérgio Niskier, presidente da tal Fierj, afirmou ao Globo que "saber que haveria um Hitler no desfile não foi a gota d'água, pois meu copo estava vazio. Foi uma verdadeira tempestade".

Puta que o pariu, que imbecil.

Maior que o absurdo da CENSURA, neste caso, é o absurdo da ignorância.

Inteligente foi a declaração do carnavalesco da escola: "É uma clara manifestação de preconceito. Eles não nos vêem como uma manifestação artística e cultural. Para eles, carnaval é batuque e bunda de fora. Se fosse numa ópera, numa música ou numa pintura, poderia."

Pois é.

Por conta de atitudes como a dos "nossos" judeus, uma pesquisa feita no fim do ano passado, na Alemanha, revelou que sessenta por cento dos jovens - SESSENTA POR CENTO! - desconhecem que houve ditadura no país.

E cada vez mais gente nesse mundo desconhece o que foi realmente o Holocausto. E aí, passa a ver com bons olhos ditaduras como as de Cuba e da Venezuela, absurdos como os do Tibet e do Haití...

Enquanto isso, o carnaval deve rolar solto no Alto Leblon nos próximos quatro dias de folia.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Playboy, o burguês e o tolo.

Dezoito meses.

Esse é o tempo em que nosso governador pretende e promete levar a internet sem fio para todo o estado . De graça. Um investimento de quarenta milhões de reais, num projeto de pesquisadores da UFRJ, com a chancela do governador. E dinheiro do Estado, através de um fundo para desenvolvimento para a ciência.

Louvável.

O que não tem explicação é começar por Copacabana, mais especificamente pela Avenida Atlântica. É lá que se encontram alguns dos imóveis mais caros da cidade. É lá que está um dos IPTUs mais caros do Rio. É lá que está a maior concentração de renda do bairro, também entre as maiores da Zona Sul.

Palavras do nosso governador: "Agora o carioca vai poder realmente montar seu escritório na praia - chegar, abrir seu notebook, se concetar à internet e despachar vendo o mar".

"Despachar" é um termo odiável. típico de classes detestáveis, como políticos e juízes.

Quando alguém perguntou se o tal carioca teria coragem para levar o notebook para a praia, nosso governador saiu-se com essa: "Bem, para isso, claro, vamos reforçar o policiamento na Avenida Atlântica".

Eu fico imaginando como alguém que mora em Mesquita, Irajá, Coelho Neto, Jardim Primavera, lê uma merda de notícia dessas.

Se nosso governador-playboy realmente levar wireless de graça também para esses lugares nos prometidos 18 meses, eu até perdôo a imbecilidade de privilegiar quem já é privilegiado primeiro.

Mas o problema é que eu sei que, daqui a 18 meses, não vai haver wireless em Mesquita, Irajá, Coelho Neto, Jardim Primavera... e nem na Baixada, para onde ele prometeu em seis meses.

* * *

Notícia da Folha de hoje:

"No primeiro ano da gestão do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o número de mortos pela polícia do Rio de Janeiro atingiu a maior marca já registrada desde o início da contabilização oficial de mortes em confronto (os chamados autos de resistência) em 1998.

Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) --órgão do governo estadual-- divulgados ontem, foram ao menos 1.260 autos de resistência (rubrica na qual se contabilizam os mortos em supostos confrontos com a polícia). Os registros, no entanto, são subestimados: os dados dos últimos quatro meses do ano são parciais, pois excluem as delegacias não-informatizadas (31,5% do total).

A Secretaria de Segurança afirmou que o secretário José Mariano Beltrame não falaria sobre os índices pois estava em inauguração do anexo feminino do Presídio Tinoco da Fonseca, em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense. A assessoria de Cabral informou que ele não comentaria os números pelo mesmo motivo.

Desde o início do governo, Beltrame afirma que a polícia tem sido "mais ativa do que reativa", o que justificaria o aumento do número de mortos em supostos confrontos.

"A solução para o Rio não é boa. É um remédio amargo", afirmou Beltrame após a megaoperação realizada no dia 27 de junho em que 19 pessoas foram mortas, símbolo da chamada "política de confronto" feita pelo governo Cabral.

Em novembro, laudo feito pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos afirmou que "foram encontradas evidências de morte por execução sumária e arbitrária" em 2 das 19 mortes. A secretaria nega.

Houve queda nas apreensões de armas e drogas. Apesar de os números dos últimos quatro meses serem parciais, a comparação dos índices completos (até agosto) indica queda de, respectivamente, 26,2% e 15,2%."

Aí eu pergunto: você votou contra ou a favor no plebiscito das armas?

A gente tá fodido.

* * *

O grande problema, é que muitos não acham isso. Pra burguesia carioca, a mais detestável desse país, só o próprio umbigo interessa e existe. Se tá tudo bem com ele, então tudo bem.

Mas se morre um rico no sinal no Leblon, se é baleado um filho de alguém conhecido no Alto da Boa Vista ou assaltada uma burguesa duas vezes em cinco minutos na Farani, aí tá tudo errado e nosso governador playboy sai metendo os pés pelas mãos, como, por exemplo, com a idéia genial de proibir carona em moto.

Mas botar a polícia pra apreender armas, em vez de usar as suas pra matar, ele não bota.

A gente tá fodido.

* * *

Toda vez que eu troco de carro, perco cerca de três mil reais em multas. Ma já paguei até mais. Tem um monte de pardais e radares idiotamente instalados na cidade.

Idiotamente, claro, pra mim, que não entendo nada de trânsito, não sou engenheiro da CET-Rio.

Porque em cada pardal ou radar instalado, tem um histórico de acidentes e atropelamentos com morte. Principalmente de madrugada, quando o Rio vira um grande cenário de GTA, seja na ZS, na ZN, na Baixada, onde for.

Eu nunca recorri de nenhuma das multas que tomei. E, quando estou pedestre e vejo um carro avançar o sinal aberto para mim, tento sempre chutar a porta, já há algum tempo. Mais de vinte anos, pra falar a verdade.

* * *

Foi no final dos anos 80. Morava na Góis Monteiro, Botafogo, de cara pro Rio Sul. Um dos sinais de trânsito menos respeitados da cidade, até hoje. Atravessar ali, a qualquer hora do dia, ainda exige atenção.

Num desses dias, pela manhã, ía pro colégio quando, sinal aberto para nós, pedestres, um imbecil resolveu passar, quando muitos já iniciavam a travessia. Reduziu por conta disso, mas não desistiu de avançar o sinal.

Eis que, do nada, um neguinho de uns 12 anos, no máximo, deu um baita chute na porta do carona. Lindo. Em cheio. Amassado feio. Carro de bacana.

Se seguiram uma freada brusca, fumaça, marcas no asfalto, e um motorista, de uns trinta e poucos anos, saindo enfurecido do carro. Tinha umas 20 pessoas atravessando a rua naquele momento. Dessas, umas dez, incluindo eu, se puseram na frente do moleque, sem nada dizer.

Nem foi preciso. O infrator imbecil voltou pro seu carro e seguiu seu caminho, com o rabo entre as pernas. E uma porta amassada.

* * *

Já tem quase quinze anos que eu não moro mais ali. Mas, até hoje, lembro das centenas - centenas mesmo - de vezes em que fui à janela, depois de uma freada seguida de baque seco, para confirmar meu temor: mais um corpo estendido no chão.

Às vezes o rabecão só passava dez, doze horas depois. Quando o assassino já estava em casa. Ou avançando outro sinal.