terça-feira, 29 de julho de 2008

Socorro!

Não posso dizer que sou "nascido e criado" em Botafogo. Na verdade, nasci no Hospital da Lagoa e passei meus primeiros anos de vida na Tijuca. Fui morar lá aos cinco anos de idade. E fiquei até sair da casa dos meus pais. Botafogo é meu bairro, minha área, minha certeza de Rio de Janeiro a qualquer hora ou situação. Desde que me entendo por gente, tem aquele canteiro de obras do Metrô entre a São Clemente e a Voluntários, ali ao lado da própria estação. Aquela área está fechada há quase 30 anos. E agora vai ser reaberta.

Eis que, em mais uma queda de braço entre os governos municipal e estadual, existe ali agora um impasse. O Sérgio Cabral já mandou começar a montar os contêineres da primeira UPA - Unidade de Pronto Atendimento - da Zona Sul. O Cesar Maia, por sua vez, quer uma praça ali. Mas entende que a UPA, que pelo projeto do Governo do Estado ocupa apenas 26,6% do que seria o terreno da tal praça, é bem vinda. Logo, ao que parece, o entendimento entre as duas lideranças não parece distante.

O problema é o de sempre - a estupidez crescente da burguesia. A dona Regina, da Associação de Moradores e Amigos (?) de Botafogo, disse o seguinte, abre aspas: Esperamos 30 anos por essa praça. Ficamos esse tempo todo convivendo com aquela área degradada, sediando o canteiro de obras do metrô. Agora, o que os moradores do bairro recebem é um projeto que não pediram? Todas as áreas do metrô foram revitalizadas, menos a de Botafogo. Os moradores de Botafogo não estão sendo ouvidos. Estamos muito chateados. No Leblon, eles podem fazer uma praça maravilhosa, a Bossa Nova. Por que em Botafogo não podem?... fecha aspas.

Pior fez o senhor Eduardo Luiz, médico, síndico de prédio vizinho ao terreno, que disse textualmente ao O Globo, abre aspas: A construtora nos prometeu um prédio ao lado de uma praça urbanizada. Agora, diz que a culpa é do governador. Ninguém é contra a UPA, mas por que não a constróem perto do Morro Dona Marta, já que os moradores de lá é que serão beneficiados? Aqui estava programada uma praça. Fecha aspas.

Eu repito - esse senhor que disse isso é médico. Mas não deve conhecer o próprio bairro. Se assim fosse, saberia que, próximo ao Dona Marta, não há terreno para a UPA. Saberia ainda que 75% da população carioca não tem plano de saúde, logo, a UPA de Botafogo vai beneficiar as comunidades das favelas Santa Marta e Tabajara, mas não somente elas. Pelo jeito, esse senhor mal sabe como é o seu vizinho.

Que seja feita ali uma bela praça com os 73,4% do terreno que não serão ocupados pela UPA - cerca de 5.500 metros quadrados. Que a UPA atenda gente do Santa Marta, do Tabajara, do Rajá, da Álvaro Ramos e, até, quem sabe, dona Regina e seu Eduardo Luiz, caso um dia eles precisem. E que gente como eles, maioria nessa cada vez mais odiável burguesia carioca, morra. Pois como pode alguém de bem achar que uma praça é mais necessária que um hospital - ainda mais quando o segundo não inviabiliza a primeira? Socorro!