terça-feira, 18 de novembro de 2008

Onde está a verdade?

Hoje eu vi um exemplo absurdo de como o jornalismo pode ser uma verdadeira cadeira elétrica para inocentes – ou um túnel de fuga subterrâneo para culpados. Depende do ponto de vista.

E o problema está exatamente aí – jornalismo NÃO É ponto de vista. Jornalismo é reportar o fato. O fato é único, assim como a verdade. Se o profissional de jornalismo não consegue chegar ao fato e à verdade únicos é porque não é bom profissional de jornalismo.

E não me venham com esse papo de prisma, viés, verdades implícitas.

Assassinaram um ganhador da mega-sena. Fato. Foi em Limeira. Era apenas um membro de um bolão que levou 16 milhões em 2007. O principal suspeito – outro membro do bolão que não pagou sua parte e recebeu apenas um prêmio de consolação de 200 mil reais – foi descartado. O depoimento dele foi considerado “consistente” segundo a polícia.

O ganhador foi assassinado no quintal da própria casa, dentro de um condomínio de luxo em Limeira. Ninguém viu nada e os parentes que estavam dentro de casa eram a mulher e os pais do morto.

AGORA VEJAM O ABSURDO.

No Jornal da Band, a matéria ficava em cima do depoimento da viúva e dos pais da vítima, único fato novo do dia (o depoimento do cara dos 200 mil foi ontem). A notícia era: a polícia descarta a participação dos familiares. A entrevista, do investigador: “todos estavam em casa e seria absurdo pensar que os próprios pais da vítima estejam macomunados com a viúva.”

No Jornal Nacional, a chamada, na escalada, era: “cena do crime foi mexida”. Era o foco da matéria, que citava que o local foi lavado, segundo os familiares, por uma vizinha, para que uma criança de oito anos não visse o sangue. A entrevista, DO MESMO INVESTIGADOR QUE APARECEU NA BAND: “o simples fato de terem removido a vítima já caracteriza que houve uma descaracterização da cena do crime”.

Ora, se eu chego hoje ao Brasil e assisto ao Jornal da Band, fico sabendo que a famíla foi descartada pela polícia como possível suspeita. Se assisto ao JN, fico achando que a família matou o cara e lavou o local do crime.

A Globo, em nenhum momento, citou que a polícia descartou os familiares como suspeitos.

E eu fico me perguntando se o JN tinha a parte da entrevista do investigador afirmando isso...

Escola Park, lembram?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Say it loud...

Malcolm X, Martin Luther King, Cassius Clay, James Brown, Ella Fitzgerald, Miles Davis, Rosa Parks, Colin Powell, Condoleezza Rice, Howard Johnson, Aretha Franklin, Denzel Washington, Spike Lee, Michael Jordan, Magic Johnson, Allen Iverson, Bill Russell, Tiger Woods, Diana Ross, Forest Whitaker, Michael Jackson, Janet Jackson, John Singleton, Maya Angelou, Tina Turner, Will Smith, Morgan Freeman, Oprah, Prince, Whoopi, Queen Latifah, Quincy Jones, Ray Charles, Samuel L. Jackson, Spike Lee, Stevie Wonder, Jimmy Hendrix, Tupac Shakur, Barack Hussein Obama.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Socorro!

Não posso dizer que sou "nascido e criado" em Botafogo. Na verdade, nasci no Hospital da Lagoa e passei meus primeiros anos de vida na Tijuca. Fui morar lá aos cinco anos de idade. E fiquei até sair da casa dos meus pais. Botafogo é meu bairro, minha área, minha certeza de Rio de Janeiro a qualquer hora ou situação. Desde que me entendo por gente, tem aquele canteiro de obras do Metrô entre a São Clemente e a Voluntários, ali ao lado da própria estação. Aquela área está fechada há quase 30 anos. E agora vai ser reaberta.

Eis que, em mais uma queda de braço entre os governos municipal e estadual, existe ali agora um impasse. O Sérgio Cabral já mandou começar a montar os contêineres da primeira UPA - Unidade de Pronto Atendimento - da Zona Sul. O Cesar Maia, por sua vez, quer uma praça ali. Mas entende que a UPA, que pelo projeto do Governo do Estado ocupa apenas 26,6% do que seria o terreno da tal praça, é bem vinda. Logo, ao que parece, o entendimento entre as duas lideranças não parece distante.

O problema é o de sempre - a estupidez crescente da burguesia. A dona Regina, da Associação de Moradores e Amigos (?) de Botafogo, disse o seguinte, abre aspas: Esperamos 30 anos por essa praça. Ficamos esse tempo todo convivendo com aquela área degradada, sediando o canteiro de obras do metrô. Agora, o que os moradores do bairro recebem é um projeto que não pediram? Todas as áreas do metrô foram revitalizadas, menos a de Botafogo. Os moradores de Botafogo não estão sendo ouvidos. Estamos muito chateados. No Leblon, eles podem fazer uma praça maravilhosa, a Bossa Nova. Por que em Botafogo não podem?... fecha aspas.

Pior fez o senhor Eduardo Luiz, médico, síndico de prédio vizinho ao terreno, que disse textualmente ao O Globo, abre aspas: A construtora nos prometeu um prédio ao lado de uma praça urbanizada. Agora, diz que a culpa é do governador. Ninguém é contra a UPA, mas por que não a constróem perto do Morro Dona Marta, já que os moradores de lá é que serão beneficiados? Aqui estava programada uma praça. Fecha aspas.

Eu repito - esse senhor que disse isso é médico. Mas não deve conhecer o próprio bairro. Se assim fosse, saberia que, próximo ao Dona Marta, não há terreno para a UPA. Saberia ainda que 75% da população carioca não tem plano de saúde, logo, a UPA de Botafogo vai beneficiar as comunidades das favelas Santa Marta e Tabajara, mas não somente elas. Pelo jeito, esse senhor mal sabe como é o seu vizinho.

Que seja feita ali uma bela praça com os 73,4% do terreno que não serão ocupados pela UPA - cerca de 5.500 metros quadrados. Que a UPA atenda gente do Santa Marta, do Tabajara, do Rajá, da Álvaro Ramos e, até, quem sabe, dona Regina e seu Eduardo Luiz, caso um dia eles precisem. E que gente como eles, maioria nessa cada vez mais odiável burguesia carioca, morra. Pois como pode alguém de bem achar que uma praça é mais necessária que um hospital - ainda mais quando o segundo não inviabiliza a primeira? Socorro!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Boi, boi, boi...

O homem dominou o fogo, inventou a roda, foi à Lua mas ainda não descobriu exatamente porque necessita de algumas horas de sono por dia. Alguns estudiosos defendem que o sono é necessário para a fixação de memórias. Outros afirmam ser uma simples pausa necessária para corpo e mente. O exército americano já gastou rios de dinheiro em pesquisas sobre o tema, na tentativa de criar um super-soldado que não precise dormir quando no campo de batalha. Mas tudo isso fica no campo da experimentação.

O que foi provado e comprovado é que o ser humano consegue viver mais tempo sem água ou comida do que sem sono. Cinco dias, é o limite máximo, dizem. Mais que isso e você morre, sim, por falta de sono.

Minha relação com cama e travesseiro nunca foi boa. Na tenra infância, tinha medo do escuro e de dormir sozinho. Mais tarde, superado isso, passei anos tendo um sonho repetido em que fugia de um lugar escuro e, quando achava a saída, tomava um tiro no peito - noites e noites acordando suado e aterrorizado. Num belo dia, noite, na verdade, o sonho parou e nunca mais veio. Já adulto, comecei a sofrer de insônia, maldição terrível que me atormenta até hoje, de tempos em tempos. Só depois dos trinta posso dizer que consegui aprender que pode haver até prazer no ato de dormir.

O problema é quando o mundo conspira pra que você não durma. E eu não estou me referindo à insônia.

* * *

"MENDONÇA, EDUARDO! MENDONÇA, EDUARDO!"

Eu ouvi a parte do "Eduardo", meu pai a do "Mendonça". Tínha acabado de fazer meu check-in e já pensava na tortura que seria ficar quase onze horas num avião, do Rio a Paris. Depois, ainda haveria mais cinco horas até Atenas.

"O senhor foi 'upgradado'. Só lhe peço para ser discreto."

Não sei se achei mais graça na palavra que a moça da Air France inventou, no pedido dela ou na cara de felicidade do meu pai. Fato é que, por conta de um erro da agência de viagens com as passagens do câmera que me acompanharia, fomos ambos parar na classe executiva. E logo da AF. "Viagem tranqüila", pensei. "De patrão".

Bem, de patrão foi mesmo. Bolsinha com mimos. Cardápio pra escolher. Álcool de todo tipo à vontade (foram cinco garrafinhas só de vinho branco). Queijinho brie. Sobremesa. Talheres de verdade. Uau. De patrão.

Agora, tranqüila, não foi. Apesar do espaço que parecia estúpido até o passageiro da frente e dos ajustes do banco (é, banco) que mais pareciam os de um carro de luxo, o fato é que a tal posição horizontal não me permitia esticar as pernas completamente. Se eu fosse uns dez centímetros mais baixo, seria lindo. Resultado - um cochilo ou outro nas onze horas de vôo, muito mais por conta do álcool que do espaço. Verdade que meu corpo chegou muito mais descansado a Paris do que se tivesse ido de classe econômica. Mas a falta de sono mata a mente, não o corpo.

* * *

"Foda-se, vou apagar no vôo para Atenas."

Fila 8F. Um, dois, trés... ai... ai... não pode ser sério. Ao meu lado, um menino de uns cinco anos e uma menina de uns dez. Na mesma fileira, do outro lado do corredor, os pais e outro garoto, pouco mais velho que o outro. E a menina ainda ocupava o meu lugar na janela. "Ok, uma criança, deve estar amarradona de viajar na janela, eu estaria." Gosto mais da janela, pois me apoio no avião pra tentar dormir. Apesar da vantagem de poder esticar pelo menos uma das pernas no corredor, sempre fico com medo de tombar pra cima da pessoa ao meu lado.

Meia hora depois da decolagem, a tragédia - a menina troca de lugar com o outro garotinho. E eu, morto de sono, certo de que estava prestes a apagar, passo a ser privilegiado espectador de uma farra entre dois Calvins franceses, com direito a voz alta, beliscões, socos e todo tipo de brincadeira típica dessa idade entre irmãos.

Os pais? Cagando. Para eles, para mim e para todos os outros passageiros, que olhavam a cada grito mais estridente ou choro. Porque, às vezes, os socos pareciam mesmo machucar.

Ligo o foda-se e penso em pegar o PSP. Desisto ao imaginar a possibilidade dos moleques me encherem ainda mais o saco pedindo pra ver ou jogar. Pior ainda seria se eu tivesse que trocar qualquer palavra com os pais, a quem já xingava há algum tempo. Tempo que não passa. Sono que mata. E barulho. Com sotaque francês. Puta que o pariu. Os nervos começam a aflorar. Péssimo isso. "Vou acabar perdendo a paciência", penso.

Bem, sempre pode ficar pior.

Chega a hora do almoço. E, para meu espanto, para minha estupefação, nenhum pai se mexe. Nada. Deixam que sirvam as bandejas para dois moleques de cinco e seis anos se virarem sozinhos num avião.

Na primeira, eu até ri. O mais velho tapou o nariz do mais novo e, quando esse abriu a boca, tascou-lhe um saquinho inteiro de sal goela abaixo. Quando o sal virou ketchup, comecei a me preocupar. Calça clara, camisa branca... "se esses moleques me sujarem, vou xingar muito esses filhos-da-puta desses pais." Nada acontece. Mas depois do ketchup, começa a guerra da manteiga. Nojento. Mas não me sujam, então fico quieto. Quieto e com sono até Atenas.

* * *

Poucas horas depois da chegada, já estou no ginásio, agitando credenciamento (que, como tudo o mais nessas viagens, apresenta pepinos que tenho que resolver). Já são umas 36 horas sem dormir. Olhos vermelhos pelo motivo errado. Pálpebra pesada. Eu quero cama, a qualquer custo.

Umas seis horas mais tarde, enquanto meu companheiro de quarto vai pro banho, eu finalmente caio na cama. Caio não, desabo. Apago imediatemente e nem o vejo sair do banho. Eram onze e meia da noite.

À meia-noite e vinte eu acordo. "Meu Deus, EU NUNCA VI NINGUÉM RONCAR ASSIM..." Nunca. E olha que, em Sydney, eu dividi quarto com um cara de um metro e noventa e cento e vinte quilos que conseguia roncar até de bruços. Aqui, o próprio roncador avisou antes, mas eu não levei fé. Tentei, em vão, até três e pouco da manhã, dormir. Tentei os tapa-ouvidos do avião... Tentei o iPod - que ficava baixo mesmo no volume mais alto diante do ronco dele... isso sem falar que o cara, muito gente fina, tem apnéia do sono, então não se trata apenas do volume mas também da forma do ronco - parece que ele vai se sufocar ou engasgar às vezes, uma coisa horrososa de irritante. Nervos testados durante três horas. "Meu Deus, serão mais seis noites, tô fodido..."

Às quatro da manhã eu me rendo. Pego o colchão e lençol e me tranco no banheiro, que, para minha sorte, é bastante grande pra isso. Mas, mesmo lá, mesmo com os protetores de ouvido, eu ainda ouvia o seu ronco ao longe... uma coisa impressionante.

Acordo às sete com ele tentando forçar a porta do banheiro, que não abre por conta do colchão alto. Claro, fica super constrangido quando explico a situação. Eu fico um pouco menos quando ele me conta que a ex-namorada dizia que, se um dia casassem, dormiriam em quartos separados. Foram só três horas de sono, depois de praticamente quarenta e duas acordado. Me sinto um caco, o último ser humano da terra. E parto para meu primeiro dia de trabalho, que iria durar das sete... às três da manhã do dia seguinte.

Penso nos experimentos do exército americano com soldados. Penso em espancar o primeiro grego que falar alto perto de mim. Penso em matar um panda ou qualquer outra coisa bela. Me irrito com qualquer coisa e comprovo na carne como o sono mexe muito mais com o sistema nervoso central que com a própria carne. Penso num banco de praça, com jornal quentinho... penso nos meus sábados em que durmo até meio-dia... e aí vejo que estou começando a parar de pensar. Penso que vou entrar em pane.

Abençoados os que dormem bem. Abençoados os que pegam no sono rápido. Abençoados todos os dorminhocos, coalas, gatos e prequiças do mundo. Mas, acima de tudo, que seja abençoada a alma boa que trocou de quarto e dormiu ontem na cama ao meu lado.

Sem roncar.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Conto de fadas verde.

Eu tive a felicidade de ter duas paixões que improvavelmente acabaram sendo do mesmo tamanho e importância em minha vida - o Flamengo e o Chicago Bulls. Pra muitos, isso pode parecer uma quase heresia. Mas não pra mim, que amo basquete e tive a sorte de acompanhar a carreira de um tal MJ desde o início. Só eu sei como foi bom comemorar cada um dos seis títulos dos Bulls. Uma época de ouro, em que meu ídolo vestia sua capa de super-herói e simplesmente jamais me desapontava (ok, estou descontando a meia-temporada logo após o retorno de sua aventura nos campos de beisebol).

Depois que Ele parou eu continuei torcendo pelos Bulls com o mesmo ardor, mas jamais com a mesma alegria. Os jogos na tv rarearam, as vitórias escassearam, quando parecia que o time começaria a dar a volta por cima, nesse ano, a casa caiu... ok, ok, temos a primeira escolha no draft na semana que vem e, venha Beasley ou Rose (prefiro o último), as coisas tendem a melhorar. Mas isso tudo é só pra dizer uma coisa - a conquista do Boston Celtics, nessa semana, me fez reviver sentimentos que não tinha desde 1998, ano do último título em Chicago.

Eu confesso: torci. Torci muito. E não torci porque odeio os Lakers e desprezo o Kobe. Torci pela felicidade alheia. Torci por causa de vários nomes. Garnett. Allen. Pierce. Rondo. Até Powe.

Esse título dos Celtics foi conquistado por conta não de táticas, Xs & Os ou mesmo talento. O time dos Lakers, pra mim, ainda é mais equilibrado. Mas não teve, em momento algum, o mesmo desejo, o mesmo tesão. Ninguém queria mais essa conquista que Garnett, Allen e Pierce. Foi na base do desejo, da paixão genuína, que esses caras venceram.

Pra entender isso, basta entrar na página da espn e buscar dois vídeos imperdíveis. Num, Michelle Tafoya entrevista os três craques juntos (http://sports.espn.go.com/broadband/video/videopage?videoId=3450943&categoryId=3419075&n8pe6c=2). No outro, Garnett bate um papo com o Senhor Bill Russell (http://sports.espn.go.com/broadband/video/videopage?videoId=3450593&categoryId=3419075&n8pe6c=2). Um mais emocionante que o outro.

Como essa conquista. Sob o perigo de parecer piegas, posso afirmar que foi a história mais bonita que já vi no basquete. Pois enquanto nos títulos dos Bulls era a obsessão de um homem que puxava outros onze, desta vez, foi a paixão de um trio por um objetivo único que elevou todo um time. E, como o próprio Paul Pierce disse, essa mentalidade em Boston mudou da noite para o dia por conta da chegada do Garnett.

Por isso foi tão emocionante. Por isso foi tão mágico acompanhar os momentos depois da comemoração quanto dos jogos em si. Ficar feliz pela felicidade desses caras.

O desejo é a força que move a vida. Eles simplesmente desejaram esse título mais que os Lakers ou qualquer outro time.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O imponderável

A verdade é que teve mesmo muito oba-oba. E coisa séria assim não pode ser tratada na base do oba-oba.

A verdade é que até o primeiro gol dos caras, não tínhamos chegado uma única vez com perigo.

Assim como é verdade que o chute fraco desviou na zaga e só por isso matou o Bruno. Acaso 1x0.

É fato que o tal do Ochoa, que lá no México tomou quatro, hoje pegou tudo, até uma cabeçada à queima-roupa do Souza, depois da bola quicar no chão, numa defesa de almanaque.

E a verdade é que o Souza não é atacante do nível do Flamengo. Porque atacante de nível não perderia o gol nessa cabeçada e, MUITO menos, na chance que teve ainda no primeiro tempo, a dois metros do gol, chutando a bola nas alturas. Souza não faz gol desde março, essa é a verdade.

Verdade também que teve um pênalti escandaloso em cima do Ibson que o juiz, a cinco metros e de frente pro lance, não deu.

E que o Bruno saiu mal, horrorosamente mal no segundo gol deles, falha coletiva da defesa, que voltou lentamente e permitiu o contra-ataque.

Olha que verdade assustadora - depois desse segundo gol, os caras tiveram DUAS boas chances... uma, ainda no primeiro tempo!

E a triste verdade é que o Tardelli teve duas chances quase dentro da pequena área, uma de cabeça e outra de perna direita. Nas duas, havia um mexicano na frente...

Além dessas duas chances, o Flamengo ainda teve outras três, claras, de marcar...

A verdade que todo mundo sabe é que quem não faz leva. E a cobrança de falta tosca matou o Bruno por conta do desvio na barreira. Acaso 2x0.

Ah, sim, ainda não tivemos o Fábio Luciano, logo hoje. Acaso 3x0, placar final.

Depois do terceiro deles, Juan foi expulso de forma estúpida, como é praxe desse time. E aí o jogo acabou.

A verdade é uma só - o Flamengo, por algum motivo, não tinha em seu destino vencer esse jogo. São coisas do futebol que eu já aprendi faz tempo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

The Bigg Dizzle Sheezle Snoop D.O. double G.

Snoop Dogg faz música que bota pra dançar quem não sabe dançar, só pular como louco com bom e velho e rápido e pesado rock.

http://youtube.com/watch?v=j_PvPSMz0WE

Há algum tempo todo disco novo dele tem umas três pérolas assim. O novo, Ego Trippin é assim, tem também as ótimas Press Play e Been Around Tha World, além da sensacional My Medicine, um verdadeiro country com Snoop c-a-n-t-a-n-d-o numa homanagem a, meu Deus, Johnny Cash. Impagável. Todas com letras ezzzzpertas, como ele diria.

Só que, há algum tempo, todo novo disco tem lixo como Sexual Eruption, que deve tocar até cansar em rádio e noite, porque a batida é um verdadeiro cliclete. Aí o disco vende.

E quem não conhece quão bom é o som soul do Snoop mais velho, acha que tudo é uma merda.

Mas é só ver o clipe pra saber que nem ele se leva a sério nessas horas...

http://youtube.com/watch?v=pKz-RXSeIYA

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Tic.

Tem momentos que nos são tão especiais, por mais simples ou tolos que pareçam, que é quase impossível explicar a outra pessoa ou, pior ainda, contar através das palavras.

Eu assistía agora ao primeiro tempo da decisão da NCAA, entre Kansas e Memphis (Derrick Rose, eu disse primeiro, 7/4/08), na ESPN, com SAP ligado, claro. Na narração, Brad Gilbert, o melhor de todos pra mim.

Eis que, enquanto as câmeras passeiam pelas arquibancadas no intervalo, mostrando personalidades e atletas presentes no ginásio, surge a figura de Bill Russell.

Pra quem não sabe nada de basquete, é fácil definir o Senhor Russell - é o maior vencedor da história nesse esporte.

O Senhor Russell jogava com uma elegância - numa posição onde essa é qualidade rara - que manteve depois de pendurar seus Chuck Taylors. Hoje ele tem 74 anos.

Pois não é que, segundos depois de as câmeras o mostrarem, enquanto Brad Gilbert desfilava elogios a ele, o Senhor Russell leva um de seus gigantescos dedos da mão direita ao nariz e solenemente tira uma meleca (com direiro ao movimento casado com o polegar na seqüência).

Corte para outra câmera, imediatamente.

No sofá da minha sala, um sorriso. Como os que me vêm ao rosto nas brincadeiras do meu avô.

Na tv, silêncio. Brad segue falando sobre o jogo e apenas solta uma leve risada, daquelas que damos quando estamos rindo de um grande amigo ou de alguém que respeitamos ou admiramos muito.

Quem sabe, um dia, um engraçadinho não bote esse momento no YouTube.

Aí todos vão ver como, até pra tirar uma meleca, o Senhor Russell está numa classe única.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aldeia Global

All I want is the best for our lives my dear,
and you know my wishes are sincere.
Whats to say for the days I cannot bare.


A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.

A Sunday smile and we felt true. (and)


We burnt to the ground
left a view to admire
with buildings inside church of white.
We burnt to the ground left a grave to admire.
And as we reach for the sky, reach the church of white.


A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.

A Sunday smile and we felt true. (and)


"A Sunday Smile"

quarta-feira, 12 de março de 2008

Salve(m) a Sálvia (malditos ianques)

"O corpo esmagado da menina jazia espalhado na calçada, um dia depois de mergulhar do quinto andar de um prédio de apartamentos em Chicago. Todos disseram que ela tinha se suicidado, mas, na verdade, foi homicídio. O assassino foi um narcótico conhecido na América como marijuana e na história como haxixe. Usado na forma de cigarros, ele é uma novidade nos Estados Unidos e é tão perigoso quanto uma cascavel."

Começa assim a matéria "Marijuana: assassina de jovens", publicada em 1937 na revista American Magazine. A cena nunca aconteceu. O texto era assinado por um funcionário do governo chamado Harry Anslinger.

Pouca gente sabia, entretanto, que a mesma planta que fornecia fumo às classes baixas tinha enorme importância econômica. Dezenas de remédios – de xaropes para tosse a pílulas para dormir – continham cannabis. Quase toda a produção de papel usava como matéria-prima a fibra do cânhamo, retirada do caule do pé de maconha. A indústria de tecidos também dependia da cannabis - o tecido de cânhamo era muito difundido, especialmente para fazer cordas, velas de barco, redes de pesca e outros produtos que exigissem um material muito resistente. A Ford estava desenvolvendo combustíveis e plásticos feitos a partir do óleo da semente de maconha. As plantações de cânhamo tomavam áreas imensas na Europa e nos Estados Unidos.

Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. Foi aí que Henry Anslinger surgiu na vida pública americana – reprimindo o tráfico de rum que vinha das Bahamas. Foi aí, também, que a maconha entrou na vida de muita gente - e não só dos mexicanos. Anslinger foi promovido a chefe da Divisão de Controle Estrangeiro do Comitê de Proibição e sua tarefa era cuidar do contrabando de bebidas. Foi nessa época que ele percebeu o clima de antipatia contra a maconha que tomava a nação. Clima esse que só piorou com a quebra da Bolsa, em 1929, que afundou a nação numa recessão. No sul do país, corria o boato de que a droga dava força sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam insinuações de que a droga induzia ao sexo promíscuo (muitos mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano médio, mas isso não tem nada a ver com a maconha) e ao crime (com a crise, a criminalidade aumentou entre os mexicanos pobres, mas a maconha é inocente disso). Baseados nesses boatos, vários Estados começaram a proibir a substância. Nessa época, a maconha virou a droga de escolha dos músicos de jazz, que afirmavam ficar mais criativos depois de fumar.

Anslinger agarrou-se firme à bandeira proibicionista,batalhou para divulgar os mitos antimaconha e, em 1930, quando o governo, preocupado com a cocaína e o ópio, criou o FBN (Federal Bureau of Narcotics, um escritório nos moldes do FBI para lidar com drogas), ele articulou para chefiá-lo. De repente, de um cargo burocrático obscuro, Anslinger passou a ser o responsável pela política de drogas do país. E quanto mais substâncias fossem proibidas, mais poder ele teria. Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo: aditivos para combustíveis, plásticos, fibras sintéticas como o náilon e processos químicos para a fabricação de papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o cânhamo. Seria um empurrão considerável para a nascente indústria de sintéticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destruídas, tirando a fibra do cânhamo e o óleo da semente do mercado.

Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidadão Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse ódio talvez se devesse ao fato de que, durante a Revolução Mexicana de 1910, as tropas de Pancho Villa (que, aliás, faziam uso freqüente de maconha) desapropriaram uma enorme propriedade sua. Hearst era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel. Ou seja, ele também tinha interesse em que a maconha americana fosse destruída – levando com ela a indústria de papel de cânhamo.

Hearst iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas matérias sobre a droga, às vezes afirmando que a maconha fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas. Foi Hearst que, se não inventou, ao menos popularizou o nome marijuana (ele queria uma palavra que soasse bem hispânica, para permitir a associação direta entre a droga e os mexicanos). Anslinger era presença constante nos jornais de Hearst, onde contava suas histórias de terror. A opinião pública ficou apavorada. Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha, "algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos". Os deputados votaram pela proibição do cultivo, da venda e do uso da cannabis, sem levar em conta as pesquisas que afirmavam que a substância era segura. Proibiu-se não apenas a droga, mas a planta.

O homem simplesmente cassou o direito da espécie Cannabis sativa de existir.

segunda-feira, 3 de março de 2008

É Natal.

Eu vi o Brasil ser campeão do mundo na Coréia. Eu vi o Guga conquistar a Masters Cup em Lisboa. Eu vi as olimpíadas de Atenas, eu vi muitos jogos emocionantes no Maraca, eu conheci verdadeiros mitos do esporte ao longo desses quinze anos. Mas costumo dizer que meu maior prazer, minha maior satisfação na carreira foi, num belo dia, estar saindo do banheiro e ver, no corredor ao lado da redação, uma rodinha de umas vinte pessoas O cercando, isso lá pelas oito da manhã... e então, quando me aproximei e o olhar Dele cruzou o meu, veio o cumprimento, o sinal de reconhecimento que fez nada mais no mundo importar por um bom tempo.

Parabéns, Galinho. E obrigado, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado por tanta coisa.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Hitler; Stalin, Mussolini, Pol Pot e Pinochet; Suharto, Franco, Fidel e Saddam; Ceausesco e... Chávez?

Qual o real conceito de ditadura, essa é a grande questão.

Hitler foi o responsável direto pela morte de seis milhões de judeus. Mas seu ideal totalitário não chegou ao poder com um golpe de Estado.

Então, de uma maneira ou de outra, afirmar que não há uma ditadura na Venezuela porque Chávez não deu um golpe, foi "eleito pelo povo", é a visão de um só prisma do conceito. E todo conceito tem muitos.

Na Venezuela, as eleições são um eufemismo. Nem seria preciso um partido único e oficial. Chávez tem formas mais sutís de minar o sistema em prol da manutenção de seu poder. Ele usa o próprio mecanismo da democracia formal para isso. Mas nem sempre dá certo.

Vejam só: Chávez propôs à população, em plebiscito, (a) a manutenção da democracia ou (b) a adoção de uma nova Constituição, de caráter totalitário, que, se aprovada, daria a ele o poder ditatorial e vitalício.

???

E Chávez não é um ditador? Onde?

Perguntar a um povo se ele deseja ceder seus poderes constitucionais a alguém é um absurdo conceitual. As consultas em plebiscito são legítimas quando arbitram conflitos ou questões dentro da própria sociedade – como o desarmamento por aqui - e, nunca, nunca na história do mundo, para transferir poderes fundamentais do povo para seu governante.

Como bom ditador, a primeira reação de Chávez foi negar a derrota. A segunda, inevitável, admití-la. A terceira, previsível, afirmar que "realizaria nova consulta ao povo assim que possível".

A vitória do NÃO na Venezuela se deu por apenas 1,5%. O alto índice de abstenção - 44% - se deveu, em grande parte, ao pouco comparecimento às urnas do venezuelano morador de regiões pobres e cidades do interior, os maiores redutos de Chávez. E onde o ditador mais gasta grana do petróleo levando eleitores no colo até os pontos de votação. Mas não deu. Ele se fodeu porque esse venezuelano tá na merda há nove anos, tempo em que ele está no poder. E, pra ele, tudo só piorou.

Foram quatro "eleições" nesse período. Em 2002, Chávez foi vítima de uma tentativa de golpe de estado. O então ministro da Defesa, Raúl Baduel, foi quem garantiu a manutenção dele no poder. Mas Baduel agora preferiu aderir à campanha do NÃO para impedir a legitimação pelas urnas de uma ditadura.

Meu prisma preferido sobre a ditadura?

Bem, os assassinatos dos jornalistas Mauro Marcano e Jorge Tortoza, opositores do governo de Chávez, continuam sem solução.

A nova lei de imprensa do país pune com o fechamento imediato qualquer meio de comunicação que transmita "conteúdos contrários à segurança nacional". E cadeia.

(O texto da lei, quase inacreditável, está em http://www.asambleanacional.gov.ve/ns2/leyes.asp?id=559. Só um pedacinho: "Artículo 147. Quien ofendiere de palabra o por escrito, o de cualquier otra manera irrespetare al Presidente de la República o a quien esté haciendo sus veces, será castigado con prisión de seis a treinta meses si la ofensa fuere grave, y con la mitad de ésta si fuere leve.")

Chávez ainda fica no poder até 2013, se os americanos deixarem. Mas serão no máximo mais cinco anos para ele tombar, como vai tombar Fidel em breve e como tombaram todos os ditadores.

E pensar que se o SIM tivesse ganho, talvez os netos dos que agora votaram ainda estivessem sob o poder do ditador, daqui a, hmmm, q-u-a-r-e-n-t-a anos. Que tal? Nascer ou morrer sob uma ditadura?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Eles não aprendem - e assim, não poderão jamais ensinar...

É chegada aquela época odiável do ano, em que legitima-se todo tipo de excesso por conta do carnaval.

De hoje até a quarta de cinzas, pode-se beber além da conta, pular sem senso do ridículo, tirar a roupa de todas as formas, exibir o corpo na tv, no sambódromo, no baile (que vai estar na tv, pra qualquer criança ver e perguntar pros pais depois como um homem pode ter peitos e parecer mulher...), pode-se ser promíscuo à vontade, drogar-se à vontade, transar-se à vontade, enfim, pode-se tudo, pois é carnaval.

Só não pode-se mostrar judeus mortos e Hitler na avenida.

A "justiça" vetou carro alegórico da Viradouro sobre o Holocausto, que mostrava corpos empilhados e teria um Hitler como destaque. Não sei e nem quero saber o contexto disso dentro do desfile, pois nem vem ao caso.

Como assim a justiça vetou?

Vetou porque foi um pedido da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro. Aquele monte de judeus ricos pra caralho se que reúnem na mansão ali do Alto Leblon pra tratar de assuntos importantes como esse e fazer festinhas com putas - não-judias, claro.

A Viradouro soltou nota afirmando que o carro tinha o objetivo de "lembrar que o extermínio pode ser a conseqüência do preconceito, da intolerância, do desrespeito à diversidade".

Enquanto isso, um tal Sérgio Niskier, presidente da tal Fierj, afirmou ao Globo que "saber que haveria um Hitler no desfile não foi a gota d'água, pois meu copo estava vazio. Foi uma verdadeira tempestade".

Puta que o pariu, que imbecil.

Maior que o absurdo da CENSURA, neste caso, é o absurdo da ignorância.

Inteligente foi a declaração do carnavalesco da escola: "É uma clara manifestação de preconceito. Eles não nos vêem como uma manifestação artística e cultural. Para eles, carnaval é batuque e bunda de fora. Se fosse numa ópera, numa música ou numa pintura, poderia."

Pois é.

Por conta de atitudes como a dos "nossos" judeus, uma pesquisa feita no fim do ano passado, na Alemanha, revelou que sessenta por cento dos jovens - SESSENTA POR CENTO! - desconhecem que houve ditadura no país.

E cada vez mais gente nesse mundo desconhece o que foi realmente o Holocausto. E aí, passa a ver com bons olhos ditaduras como as de Cuba e da Venezuela, absurdos como os do Tibet e do Haití...

Enquanto isso, o carnaval deve rolar solto no Alto Leblon nos próximos quatro dias de folia.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Playboy, o burguês e o tolo.

Dezoito meses.

Esse é o tempo em que nosso governador pretende e promete levar a internet sem fio para todo o estado . De graça. Um investimento de quarenta milhões de reais, num projeto de pesquisadores da UFRJ, com a chancela do governador. E dinheiro do Estado, através de um fundo para desenvolvimento para a ciência.

Louvável.

O que não tem explicação é começar por Copacabana, mais especificamente pela Avenida Atlântica. É lá que se encontram alguns dos imóveis mais caros da cidade. É lá que está um dos IPTUs mais caros do Rio. É lá que está a maior concentração de renda do bairro, também entre as maiores da Zona Sul.

Palavras do nosso governador: "Agora o carioca vai poder realmente montar seu escritório na praia - chegar, abrir seu notebook, se concetar à internet e despachar vendo o mar".

"Despachar" é um termo odiável. típico de classes detestáveis, como políticos e juízes.

Quando alguém perguntou se o tal carioca teria coragem para levar o notebook para a praia, nosso governador saiu-se com essa: "Bem, para isso, claro, vamos reforçar o policiamento na Avenida Atlântica".

Eu fico imaginando como alguém que mora em Mesquita, Irajá, Coelho Neto, Jardim Primavera, lê uma merda de notícia dessas.

Se nosso governador-playboy realmente levar wireless de graça também para esses lugares nos prometidos 18 meses, eu até perdôo a imbecilidade de privilegiar quem já é privilegiado primeiro.

Mas o problema é que eu sei que, daqui a 18 meses, não vai haver wireless em Mesquita, Irajá, Coelho Neto, Jardim Primavera... e nem na Baixada, para onde ele prometeu em seis meses.

* * *

Notícia da Folha de hoje:

"No primeiro ano da gestão do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o número de mortos pela polícia do Rio de Janeiro atingiu a maior marca já registrada desde o início da contabilização oficial de mortes em confronto (os chamados autos de resistência) em 1998.

Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) --órgão do governo estadual-- divulgados ontem, foram ao menos 1.260 autos de resistência (rubrica na qual se contabilizam os mortos em supostos confrontos com a polícia). Os registros, no entanto, são subestimados: os dados dos últimos quatro meses do ano são parciais, pois excluem as delegacias não-informatizadas (31,5% do total).

A Secretaria de Segurança afirmou que o secretário José Mariano Beltrame não falaria sobre os índices pois estava em inauguração do anexo feminino do Presídio Tinoco da Fonseca, em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense. A assessoria de Cabral informou que ele não comentaria os números pelo mesmo motivo.

Desde o início do governo, Beltrame afirma que a polícia tem sido "mais ativa do que reativa", o que justificaria o aumento do número de mortos em supostos confrontos.

"A solução para o Rio não é boa. É um remédio amargo", afirmou Beltrame após a megaoperação realizada no dia 27 de junho em que 19 pessoas foram mortas, símbolo da chamada "política de confronto" feita pelo governo Cabral.

Em novembro, laudo feito pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos afirmou que "foram encontradas evidências de morte por execução sumária e arbitrária" em 2 das 19 mortes. A secretaria nega.

Houve queda nas apreensões de armas e drogas. Apesar de os números dos últimos quatro meses serem parciais, a comparação dos índices completos (até agosto) indica queda de, respectivamente, 26,2% e 15,2%."

Aí eu pergunto: você votou contra ou a favor no plebiscito das armas?

A gente tá fodido.

* * *

O grande problema, é que muitos não acham isso. Pra burguesia carioca, a mais detestável desse país, só o próprio umbigo interessa e existe. Se tá tudo bem com ele, então tudo bem.

Mas se morre um rico no sinal no Leblon, se é baleado um filho de alguém conhecido no Alto da Boa Vista ou assaltada uma burguesa duas vezes em cinco minutos na Farani, aí tá tudo errado e nosso governador playboy sai metendo os pés pelas mãos, como, por exemplo, com a idéia genial de proibir carona em moto.

Mas botar a polícia pra apreender armas, em vez de usar as suas pra matar, ele não bota.

A gente tá fodido.

* * *

Toda vez que eu troco de carro, perco cerca de três mil reais em multas. Ma já paguei até mais. Tem um monte de pardais e radares idiotamente instalados na cidade.

Idiotamente, claro, pra mim, que não entendo nada de trânsito, não sou engenheiro da CET-Rio.

Porque em cada pardal ou radar instalado, tem um histórico de acidentes e atropelamentos com morte. Principalmente de madrugada, quando o Rio vira um grande cenário de GTA, seja na ZS, na ZN, na Baixada, onde for.

Eu nunca recorri de nenhuma das multas que tomei. E, quando estou pedestre e vejo um carro avançar o sinal aberto para mim, tento sempre chutar a porta, já há algum tempo. Mais de vinte anos, pra falar a verdade.

* * *

Foi no final dos anos 80. Morava na Góis Monteiro, Botafogo, de cara pro Rio Sul. Um dos sinais de trânsito menos respeitados da cidade, até hoje. Atravessar ali, a qualquer hora do dia, ainda exige atenção.

Num desses dias, pela manhã, ía pro colégio quando, sinal aberto para nós, pedestres, um imbecil resolveu passar, quando muitos já iniciavam a travessia. Reduziu por conta disso, mas não desistiu de avançar o sinal.

Eis que, do nada, um neguinho de uns 12 anos, no máximo, deu um baita chute na porta do carona. Lindo. Em cheio. Amassado feio. Carro de bacana.

Se seguiram uma freada brusca, fumaça, marcas no asfalto, e um motorista, de uns trinta e poucos anos, saindo enfurecido do carro. Tinha umas 20 pessoas atravessando a rua naquele momento. Dessas, umas dez, incluindo eu, se puseram na frente do moleque, sem nada dizer.

Nem foi preciso. O infrator imbecil voltou pro seu carro e seguiu seu caminho, com o rabo entre as pernas. E uma porta amassada.

* * *

Já tem quase quinze anos que eu não moro mais ali. Mas, até hoje, lembro das centenas - centenas mesmo - de vezes em que fui à janela, depois de uma freada seguida de baque seco, para confirmar meu temor: mais um corpo estendido no chão.

Às vezes o rabecão só passava dez, doze horas depois. Quando o assassino já estava em casa. Ou avançando outro sinal.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Nem todo policial é um otário fardado, nem todo malandro é um mal necessário.

Há oito anos, quando comecei a conhecer um pouco melhor Nichteroy, fui logo avisado sobre os perigos do Cavalão. "Favela braba, igual às piores do Rio."

Voltei a ouvir sobre o Cavalão nesse fim de semana, na sensacional reportagem da Regina Casé pro Fantástico. Ela mostrou como é possível, com boa vontade, trabalho e respeito, resolver um dos maiores problemas da nossa cidade.

O último registro de homicídio no Cavalão data de 2003. Desde então, morador algum ouviu sequer um tiro. E ninguém precisa de autorização do tráfico para entrar. A paz subiu o morro um ano antes, em 2002, quando foi instalado, bem no meio da favela, o Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais (Gpae). Um "quartel" onde as crianças entram e saem, jogam bola, pegam frutas nas árvores. Tática de auto-proteção que viria a ser também um dos alicerces de uma nova relação entre a comunidade e a Polícia Militar. Como mostrou a Regina, no Cavalão homens, mulheres e crianças sabem os nomes dos policiais. Os respeitam. E os têm como gente de confiança.

Nem sempre foi assim, claro. Durante mais de vinte anos, o Cavalão foi o morro mais violento de Nichteroy, com uma rotina de tiroteios e mortes praticada pelo movimento, que hoje não existe mais de forma organizada no morro.

"Estaria mentindo se dissesse que ninguém vende ou compra droga aqui", diz o comandante do Gpae, o capitão Romeu. "Mas não existe mais o tráfico enquanto dono do morro, ditando ordens e executando pessoas".

Lembro de novo: já são quatro anos sem um único tiro ou homicídio no Cavalão.

E o mais incrível é que a instalação do Gpae no morro foi uma resposta a uma denúncia de violência policial - em setembro de 2002, oito policiais foram presos pela tortura e morte do ajudante de pedreiro Francisco Aldir de Souza, que tinha 18 anos. E, claro, não era traficante. Dois ônibus foram queimados pela comunidade em protesto. O tráfico mandou fechar o comércio no morro. Mas aquela seria a última vez.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Gonzo

São duas e meia da manhã. Já faz duas semanas que estou em Las Vegas. O trabalho, motivo de minha vinda, acabou há três dias. Tempo que deveria ter sido usado para sair daqui para qualquer lugar, de preferência LA. Mas há um certo magnetismo aqui. Decidi ficar e continuar com a rotina de excessos.

São duas e trinta e um da manhã de minha última noite em Las Vegas. Sem arrependimentos. Já é hora de ir. Meu vôo é daqui a pouco menos de dez horas. Decidi me embriagar ao máximo e dormir o mínimo possível, para, qualquer deus me ouça, apagar no avião e só acordar em casa.

Olho pro relógio. Nesses sessenta segundos, um redneck vomitou na mesa de pôker ao lado, fui abordado por uma prostituta bêbada e pedi minha décima segunda dose de Jack. Não posso deixar de pensar que com esses 120 dólares eu poderia ter comprado seis garrafas na volta. Agradeço ao deus da roleta por ter me ensinado a me desprender ainda mais do dinheiro, maldito dinheiro.

Estou no cassino que fica a poucos passos do hotel. Salvação e perdição. Foi sempre ali a última parada antes da cama nessas duas semanas. Claro, quando eu consegui achar a cama depois. Comparado aos outros cassinos de Vegas, esse se mostra único; em vez do clima pesado e decadente, uma atmosfera apenas decadente, graças ao público jovem que vem ao lugar. Não que se embebedem menos ou sejam menos exemplo de tudo de errado com a humanidade. Mas era o cassino mais agradável que tinha conhecido até então. E eu ainda podia passar a noite ali ouvindo rock'n'roll. Dentro de meu estado de solidão compulsório, já tinha passado noites piores.

Mas ainda eram duas e trinta e três da manhã.

“Preciso mijar”. Péssimo pensamento. Significava levantar-me do bar central, onde estava confortavelmente papeando com o Jack, passar por uma multidão de caipiras, roletas, gringos, cervejas, putas e seguranças até o longo e amplo corredor que levava aos banheiros. Cumpro a missão com certa desenvoltura; àquela hora, estava tão bêbado que mal sentía meus pés tocarem o chão. Fui Fred Astaire até a cabine, conhecida de outras noites de vômito e contagem de dólares para mais uma rodada na roleta. Senti um certo alívio em olhar pela última vez para a foto do Jim Morrison na parede. “Talvez seja a hora de desistir.” Saio do banheiro bem melhor depois de botar para fora parte de minha conversa com Jack. “Preciso tirar esse gosto de vômito da boca”, penso. E decido voltar pro bar.

Refaço mentalmente o caminho de volta e saio da segurança de minha cabine para a inebriante realidade do cassino lotado. Gente, gente, gente de todo tipo. Mas eu acabo reparando numa turma que vem longe, em minha direção; quatro imbecis fortes pra caralho, linebackers, acompanhados de três Britneys. Mas eu não estou em condição de fixar atenção em nada. Minha mente vai da guitarra na parede às pernas de uma gostosa, passando pela tabacaria e pela loja de souvenirs. Por isso não percebo quando ele se aproxima.

* * *

Meu nome é John. Sou segurança do Hard Rock Cassino, em Las Vegas. São quase três da manhã e eu conto os minutos para a troca de turno. Noite tranqüila, sem maiores incidentes. Geralmente, bêbados são nosso maior problema. “Um bêbado em um cassino é sempre problema – e todos estão sempre bêbados”.

Um deles sai do banheiro. Já o tinha visto nas noites anteriores. Sempre acompanhado de outros três caras, mas há pelo menos duas ou três noites, vinha sozinho. Usava uma camisa chamativa, com o número 10 às costas, e nesta noite parecia mais bêbado que nunca. Ele pára assim que sai do banheiro. Depois começa a andar daquela forma inconfundível, quando se é preciso prestar atenção em cada passo.

Depois de alguns deles, sem mais nem menos, um jovem extremamente forte vai em direção a ele. O pega com toda força, pelos ombros, e o arremessa na parede. Ato contínuo, um tremendo arroto na cara do camisa 10, seguido de risadas – do imbecil, dos imbecis que o acompanhavam e uma ou outra pessoa que viu a cena. A maioria, como eu, reage com incredulidade e reprovação. “É o tipo de brincadeira escrota que me faz suar meu terno de vez em quando”, penso. Mas não hoje. Ele está bêbado demais para reagir. Fica ali, na parede, parado, emparedado. Como que imaginando se aquilo realmente tinha acontecido. O grupo, com quatro trogloditas, segue seu caminho sem dar maior importância à vítima da brincadeira.

Mas, para minha surpresa, o bêbado começa a dar um passo trôpego atrás do outro em direção ao grupo. “Shit! Eu não acredito que esse idiota vai tirar satisfação com quatro caras daquele tamanho!”.


* * *

Boto a mão no ombro dele, pelas costas, já gritando, “Ô seu viado!”

O soco sai forte, com o braço errado. Graças ao deus dos burros e ao deus dos ombros deslocados, pega no ouvido do desgraçado, que deve ter tido todo tempo do mundo para se esquivar, dada minha condição alcóolica. Com isso ele dobra o joelho – você já tomou um soco no ouvido, mesmo de raspão? - e eu vôo para frente, impulsionado pelo meu braço, que passou reto e chegou primeiro ao chão.

Não tive tempo nem de me levantar. Dois macacos de terno caem sobre mim, com toda força; um deles me imobiliza e o outro, juro por Zico, me suspende e me bota de pé pelo cinto. Mas eu nem chego a botar realmente os pés no chão. Sou arrastado até uma porta de serviço e sumo pelos subterrâneos do cassino.

* * *

“O senhor espere aqui”.

Sou deixado em uma sala pequena, onde há um sofá e uma câmera no teto, bem no canto. Imagino quantas pessoas devem trabalhar na sala de monitoração do cassino, tantas são as câmeras por todo lugar. Umas trezentas no salão de jogo, facilmente. Naquela sala, aquela parecia um olho divino a me observar. Quem estaria do outro lado? O que vai acontecer comigo agora, porra? Caralho, aquele imbecil arrotou mesmo na minha cara? CARALHO, meu vôo... marco a hora no relógio.

São cinqüenta e três minutos de espera. Não vale à pena contar aqui o que se passou por minha cabeça nesse tempo. Iria assustá-lo demais.

Entram então três homens. Um deles, mais velho, com um terno de melhor corte, é o que fica. Seu inglês tem um sotaque que não consigo identificar, mas ele é calmo, cordial e fala devagar.

Me diz que a norma do cassino é botar quem briga pra rua. Solução simples e rápida. Mas que, no meu caso, teria que ser diferente. Os quatro Warren Saps estavam lá fora me esperando. Pra minha sorte, um segurança tinha visto tudo e, pelo visto, tirado o meu da reta, provavelmente depois de rirem muito da cena gravada pelas câmeras de segurança. O homem me pergunta onde estou hospedado e me oferece uma carona para o hotel, para onde volto de limusine.

“Ainda bem. Acho que eu não estava mesmo em condições de caminhar”.


Esse texto é uma singela reportagem/homenagem ao Mestre Hunter S. Thompson, que teve sua biografia definitiva lançada no mês passado. RIP, HST.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Fragmentos de pensamentos... como uma conexão que cai... um neurônio que cai... ou, como diria a propaganda, "Keep walking."

Depois de quase vinte dias eu volto a ter acesso à internet em casa, graças ao incrível avanço tecnológico das empresas que prestam serviços de comunicação no país... nesse tempo, um rei mandou um ditador se calar, as chuvas voltaram a mostrar a fragilidade da cidade, o oficial do Bope que enforcou o sequestrador do 174 fez piada com o fato, um turista morreu atropelado depois de um assalto... e todo mundo continua solto... graças a Deus existe Doors pra esquecer que isso tudo é real... de quinta e domingo tem mais um Festival Hutúz, desta vez com shows no Circo Voador, com destaque pro MV Bill no sábado - alguém um dia ainda vai me explicar porque o Thaíde nunca vem. O detalhe é o seguinte - a entrada vai custar 10 pratas. Louvável, de acordo, possível porque quem organiza precisa pagar. E paga. Com ingresso a 10 pratas. Alguém sabe quem ta trazendo o Police pro Rio?...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"Meio certo não existe, tru, o ditado é comum."

Há dez anos era lançado Sobrevivendo no Inferno, obra dos Racionais MC's que neste tempo se transformou num marco da música brasileira.

E não me refiro à qualidade do disco, dos meus preferidos, e "eleito" mês passado pela edição brasileira da Rolling Stone um dos 100 melhores da história da nossa música (em décimo quarto lugar).

Sobrevivendo foi um marco porque subverteu uma ordem que, até hoje, dez anos depois, tantos insistem em afirmar inquebrável. Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay quebraram.

A própria Rolling Stone erra ao afirmar 1998 como a data de lançamento. Comprei o CD em dezembro de 1997, num camelô na Uruguaiana. Só três meses mais tarde conseguiria achar o disco quente, toscamente distribuído pela Cosa Nostra, selo dos caras. Produção independente, distribuição independente, quatro homens independentes que resolveram bancar sua posição.

Sobrevivendo no Inferno vendeu mais de 500 mil cópias originais. Estima-se que tenham sido entre um milhão e um milhão e meio de cópias piratas.

No mês passado, no Roda Viva, da Cultura, Brown defendeu a pirataria com seu ponto de vista simples e reto:

"Mano, eu não posso condenar o cara que vende meu CD pirata. Até porque, vários parceiros sem emprego fazem isso pra sobreviver. É aquela história batida, o cara podia tá roubando, fazendo mil coisas erradas, mas tá ali, tentando trabalhar, montando a barraca dele no centro ainda na madruga, tendo que correr da polícia quando ela chega querendo o arrego ou pegar toda a mercadoria. Você acha mesmo que se ele tivesse uma opção digna de emprego ele estaria nessa situação, tendo que correr de polícia?"

Enquanto isso, artistas consagrados, com gordos contratos com grandes gravadoras, reclamam do prejuízo que a pirataria lhes causa.

Esses artistas, via de regra, moram em casas grandes, com piscina, viajam o mundo, comem bem, têm carro com preço de apê e não pagam quase nada aonde quer que vão.

Que raiva.

Como pode, num país fodido como o nosso, o cara que ganha salário mínimo pagar 36 reais num CD? Ou 17 numa sessão de cinema? Se quiser levar mulher e dois filhos, mais de cinquenta pratas - cerca de quatorze por cento do seu ganho mensal. Isso, pra ver um filminho p-o-r m-ê-s. E, mesmo assim, ele não vai, claro. Livro? Um bom livro não se acha por menos de 30 reais. Mesmo drama.

A opção dele, claro, é pagar 4 reais no CD, 5 no DVD (agora antes mesmo do filme chegar ao cinema) e continuar sem ler, porque a pirataria no setor editorial ainda não pegou.

Tá errado o trabalhador consumir cultura assim, pagando pelo pirata? Tá errado o pirata ao privar o artista consagrado de mais uma colher de caviar? O que seria certo, o pirata ir preso e o trabalhador continuar tendo como opção apenas a Globo?

Caralho, não é possível que as pessoas não entendam. Cultura, nesse país, há tempos e tempos e tempos virou coisa pra rico, pros poucos ricos. O povo, pra ter acesso, deve agradecer pela pirataria. Que, nesse caso, faz papel de Robin Hood e também do próprio povo, garantindo seu sustento.

E não me venham falar de máfia de camelôs, porque essa máfia controla a venda de brinquedos e outras muambas que entram no país sem pagar imposto. Aqui eu tô falando de pirataria de cultura - ou o malfadado direito à propriedade intelectual.

O que me lembra a frase dos Racionais lá de cima. Não existe meio certo. O cara que critica a pirataria muitas vezes baixa música da internet - pirataria. Compra soft na banca do camelô - pirataria. "Ah, mas o Office original custa um aburdo!"

O mesmo absurdo que passaram a custar os ingressos pra show depois que a burguesia deu um tiro no pé com a questão da meia entrada - o mesmo branquinho que bate no peito pra dizer que só viu Tropa de Elite no cinema, usa carteirinha falsa ou de curso de ioga pra pagar meia entrada pro The Police, show mais caro dos últimos tempos.

Até o Maracanã, hoje, me dá a impressão de não ser mais pro povo. Olho pros lados, na arquibancada, e vejo uma gente COMPLETAMENTE diferente da que eu vía quando tinha 15 anos.

A pirataria, no Brasil, é bendito meio pra que o povo tenha acesso à cultura. Não leva artista algum à falência, como estão aí os Racionais pra provar, dez anos depois do disco mais pirateado de todos os tempos.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O que você vai ser quando você crescer...

Ainda me lembro da primeira vez que fui sozinho ao Maracanã, tinha doze anos. Naquele tempo, tempo bom, sonhava com uma carreira de jornalista esportivo e invejava profundamente aqueles que, como eu, estavam sempre lá - mas sem pagar e vendo o jogo da então tribuna de imprensa.

Ainda me lembro da primeira carteirinha da ACERJ que recebi, logo depois de ser contratado e realizar o sonho da carreira. "Uau!", pensei. "Agora mesmo é que não saio mais do Maracanã".

Passaram-se nove anos até que eu usasse a tal carteirinha - já tinha uma coleção pendurada na porta do armário de casa quando pela primeira vez usei do direito de entrar sem pagar, mesmo não sendo pra trabalhar. O fato é que nunca gostei, nunca me senti à vontade. Em primeiro lugar, não dá pra entrar como imprensa de bermuda. Manto sagrado, claro, nem pensar. E ir ao Maraca sem vestir o manto é como ir à praia e não dar um mergulho.

Depois dessa primeira vez, que foi no ano passado, acompanhado de um pintor e um pedreiro conhecidos, mas que foram pra arquibancada, só voltei a usar a carteira no Flamengo x Asco, quando me aborreci tremendamente ao ter minha passagem pra arquibancada negada pelo simples fato de estar usando uma camisa do Flamengo por baixo da Hering branca. "Ordens do Pedro Costa". "Vocês vêm pra cá, não pagam, querem ir pra arquibancada... veio pra cá, é pra trabalhar."

Ainda tive que aturar essas e outras em tom de deboche. Logo quem, logo eu, olha só, que usei a porra da carteira, sem ser a trabalho, duas vezes em treze anos.

Por isso, ontem, depois do programa sair do ar, saí eu do Maracanã, onde estava trabalhando desde quatro da tarde, vesti o manto, saquei o ingresso e fui pra arquibancada encontrar meu irmão.

E aí, no meio do caminho, tinha a PM.

E branquinho ainda quer fazer Copa do Mundo aqui.

Em mais um show de incompetência, despreparo e, pra mim, total racalque, policiais montados em cavalos "organizavam" as filas de entrada, uma de cada lado. De tempos em tempos, travavam a fila. Tumulto. Empurra-empurra. Mulher passando mal. Cecetete pra cima de torcedor. Suor. Pés mal tocando o chão. O corpo sendo levado pela massa. Uma loira gostosa dando mole. Por sorte, cair no chão era improvável, diante do aperto.

Meia hora quase nesse sufoco. Até a alma ficou empapada de suor. E, já do lado de dentro, a visão da má vontade - gente pra caralho pra entrar ainda e a polícia, em vez de manter a ordem, dava o tom da desordem, transformando o que poderia ser uma entrada tranquila, sem as tais filas, numa tragédia em potencial. Porque pra alguém ser pisoteado ou ter um enfarto no meio daquela situação, não custava nada. Vi pelo menos meia dúzia de pessoas saindo das mega-filas passando mal.

Nosso problema é achar que aqui é a Suíça.

Mas aqui, definitivamente, não é. Aqui o cara sobe no assento pra ver o jogo. Quebra o assento, joga na torcida adversária, lá embaixo. Aqui, num jogo como o de ontem, setenta pessoas vão parar no atendimento médico, algumas pisoteadas em tumultos já dentro do Maracanã. Aqui, meus camaradas, não é a Suíça. E aqui, a polícia não é bem uma polícia.



Lá dentro, de novo, aquele fenômeno chamado Flamengo. Muito mais que um time, muito mais que um clube - uma nação. Só quem é sabe o que é.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Todos os dias quanto acordo...

...e saio de casa, a cena é a mesma - o engarrafamento em direção ao Rebouças está próximo ou, por vezes, à porta do meu prédio. Imagem que estraga a cena maior, da Lagoa num dia de sol ou chuva, não importa, sempre linda.

Mas me acostumei com isso - sigo naquele trecho de pouco mais de três quilômetros até o túnel ouvindo música, durante não menos que vinte minutos de trânsito lento.

Hoje, não tinha carro na porta de casa. Não tinha trânsito até o túnel, que alcancei de uma esticada só, em menos de um minuto. Incrível.

Todos os dias quando vou pra Bonsucesso, vejo um fluxo enormemente maior na direção contrária. No Rebouças. Na Linha Vermelha. Na Avenida Brasil. No Aterro. Na Perimetral. Não importa o caminho - na Linha Amarela, agora, tem até faixa reversível até dez da manhã pra desafogar o trânsito na direção da Zona Sul e Centro.

Pois bem. Aí o quê a estúpida da prefeitura faz quando decide rebrir um dos túneis do Rebouças? Bota esse túnel com mão pra ZN das 5 às 15, e depois, com mão invertida, das 16 em diante. Tudo, claro, pra atender quem mora na Zona Sul.

Hoje a cidade terá mais um dia como ontem, com Avenida Brasil parada, Linha Vermelha sentido Centro parada... ah, mas na primeira página do O Globo, claro, a foto e a manchete são do Santa Bárbara "sofrendo as consequências, engarrafado o dia inteiro".

Salve a burguesia, salve o César Maia, salve a ignorância humana.



Esse absurdo me lembra, claro, o "Caos Aéreo" - expressão adotada por tvs e jornais pra vender notícia, que é o objetivo de todo veículo de comunicação. Durante meses tivemos que conviver com páginas e mais páginas de "denúncias", minutos e mais minutos de declarações na tv, de autoridades, de autoritários, de gente comum. Ôpa, "gente comum"? Será mesmo que quem anda de avião nesse país é gente comum?

O caos aéreo fez a burguesia esperar horas em aeroportos, passar pelo absurdo de ter que dormir no chão por vezes - meu Deus, coitada da burguesia!

Agora eu pergunto: o tal caos aéreo passou? Os aviões não continuam subindo e descendo com atraso? O Sindacta não continua com os mesmos radares e computadores obsoletos? Os controladores de vôo não seguem ganhando um salário de fome em vista à sua responsabilidade?

Então, porra, por que ninguém fala mais disso?

Porque é notícia velha, não vende mais, cansou. Vamos agora falar do túnel, do engarrafamento no Santa Bárbara, da nova campanha do O Globo sobre a violência no trânsito - ôpa, essa já acabou também, mal vi passar.



Serviço de utilidade privada do 021: Sheila Mello, 29 anos, é a capa da Sexy deste mês, edição que comemora os 15 anos da revista. Pago pau mesmo. Sheila Mello é top 5 all time.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Bosta de Elite


Foi o Guilherme quem me chamou a atenção para o título da matéria de capa da Veja desta semana:

"(...) O FILME TROPA DE ELITE É O MAIOR SUCESSO DO CINEMA BRASILEIRO PORQUE TRATA BANDIDO COMO BANDIDO E MOSTRA USUÁRIOS DE DROGAS COMO SÓCIOS DOS TRAFICANTES."

Puta que pariu, foi a primeira coisa que pensei, e pela milésima vez pelo mesmo motivo. Mais um idiota escrevendo sobre um ponto de vista míope, preconceituoso, americanizado, burguês, burro...

Esse vai ser um texto repleto de palavrões, por isso eu vou logo pedindo desculpas e avisando que estômagos mais sensíveis podem se sentir ofendidos com o que virá a seguir.

Avisei.

Quem associa a violência no Rio de Janeiro ao tráfico é burro. Burro, cego e surdo pra cidade em que vive. Porque tráfico existe em qualquer lugar do mundo onde haja drogas. E drogas, como sabemos, existem em qualquer lugar do mundo. Então tráfico também. Em tão alta escala quanto no Rio ou até mais. Raramente com a mesma violência e crueldade. Mas sempre na mesma oferta. Só mais caro. Paris, Roma, NY, Vegas, Sydney, Lisboa, Buenos Aires. Qualquer um pode comprar droga nesses lugares.

O tráfico não gera em todos os lugares onde é presente a mesma violência que gera aqui, necessariamente. Ele é uma imposição de uma política absurda implementada pelos EUA no início do século passado para reprimir entorpecentes, principalmente a maconha e o ópio, que acabou sendo adotada globalmente. Foi quando assinou-se a sentença de morte de uma série de variedade de plantas para referendar-se a produção em escala global de bebidas alcóolicas, que matam muito mais do que qualquer droga ou guerra jamais matou.

(Não me lembro de caso recente de acidente de trânsito com morte por conta de um motorista chapado. Mas o bêbado do caminhão outro dia matou um monte na estrada, a 120 por hora. Ah, mas cerveja, cachaça, conhaque, nada disso é droga... É um animal quem pensa assim. Porque o almofadinha certinho e careta e politicamente correto que sai do barzinho da moda no Leblon bêbado dirigindo é muito mais filho-da-puta do que o que compra droga no morro.)

Eu tô cansado de viver num lugar onde é moralmente condenável comprar algo que é proibido plantar, enquanto é a coisa mais comum do mundo ver quase todo mundo que eu conheço, em algum momento, completamente bêbado e, por isso mesmo, sujeito a fazer todo tipo de merda - até dirigir.

Ou alguém me dá algum outro motivo consistente além do trânsito para proibirem alguém de
alterar a mente com qualquer tipo de droga? Que mal ou violência um chapado ou doidão é capaz de fazer que um bêbado não seja?

Sim, eu posso beber e dirigir, posso fumar tabaco até definhar, mas não posso plantar maconha, porque o Tio Sam assim quis na década de 20 do século passado. Basicamente, é esse o paradigma atual.

Não são as drogas - ou o tráfico - que originam a violência no Rio. Porque aqui, o tráfico de drogas é só uma manifestação da violência que, no caso de nossa socieade, existe não por existirem tráfico ou drogas, mas sim por existir uma desigualdade revoltante que se faz presente na praia, na praça, no estádio, na ZS, na ZN, em todo lugar. Pra qualquer lado que se olhe, tem um rico tirando onda com um pobre - mesmo que essa seja a última coisa que a pobre alma rica queira fazer. Mas faz.

É essa desigualdade que revolta o moleque de 12 anos que vai levantar pipa pro trafico por 200 por semana. Aí ele desce e compra um nike, uma bermuda da moda e vai dar um rolé em Ipanema, se achando menos deslocado do que antes. Como eu vi hoje, no 10 - um grupo de cinco ou seis meninas que seguramente eram do Cantagalo ou Pavão sendo olhadas de banda pela maioria patricinha que frequenta aquele trecho da praia. Mal sabe o tal moleque que o Nike e a bermuda farão pouca diferença, dependendo do seu tom da sua pele.

Aí esse moleque chega na praia e vê iPod, Blackberry, menininha de quinze anos dando um dois, playboy de Tag Heuer no pulso, pittboy de Oakley na cara... e todo mundo filmando ele, que é preto. Ou mulato, ou pardo ou, simplesmente, fora do padrão dourado do local. "Pobre tem pinta de pobre". Onde eu ouvi isso? Adivinhem...

Tivesse eu nascido favelado, nem gosto de pensar em como seria lá pelos meus quinze anos de idade num lugar com gente que pensa assim.

E aí eu pergunto - é a porra da droga que faz o moleque virar bandido? Ou é a revolta que ele sente por viver fora daquilo, na realidade fodida de um morro, de um Complexo? Meus amigos, dêem graças a Deus por todo esse contingente estar agora em seus morros, esperando pra vender, botar na gaveta, descer pro baile e fechar o feriado santo sem tiro se possível. Porque o traficante quer as mesmas coisas que eu e você - da diversão na noite de sexta ao dinheiro no bolso pra pagar o leite das crianças. Porque traficante também tem filho.

E garanto - trafica porque não conseguiu nada digno pra fazer. Do mesmo jeito que cada camelô que vendeu uma cópia pirata do filme. Como disse o Mano Brown rispidamente no Roda Viva, "cê acha mesmo que o irmão iria tá lá no centro todo dia correndo da polícia se tivesse trabalho digno pra fazer?"

Só que não tem. Aí vai vender droga. Ou vai puxar carro. Vai assaltar banco, apartamento na Lagoa. Vai formar quadrilha pra sequestrar empresário da Barra que anda em carro de quinhentos mil reais. Quer saber? Eu acho mais é que quem tem a coragem e a falta de noção de andar num carro assim no nosso país tem mais é que tomar tiro na cara. Cara-de-pau.
É como passear num campo de refugiados no Máli comendo um sundae da Chaika. Afronta. Confronto.

No delicado equilíbrio de forças da nossa cidade, o confronto está cada vez mais presente. Um dia, o aparente estado de controle das coisas cai. Aí fodeu.

E, claro, vai tem gente dizendo que é por causa das drogas. Do mesmo jeito que, provavelmente, alguém vai ler isso aqui e achar que eu tô defendendo traficante ou tráfico. Porra, seu tonto, eles são consequência do que eu e você ajudamos a sustentar, uma sociedade fodida, partida, cada vez mais bipolar.

Porra, um dia a casa vai cair porque a tal bosta de elite continua comendo pizza de 50 reais, comprando vestido de 300, tênis de 500, carro de 60, 70, 100, 200... enquanto paga setentinha pra faxineira passar o dia inteiro em suas casas limpando... Não houvesse drogas ou tráfico, e a situação seria a mesma, pois a desigualdade e o ódio seriam os mesmos - sim, porque cada vez mais o pobre odeio o rico no Rio de Janeiro, e com motivo.

Pelo mesmo motivo que eu nem me arrisco a ver o filme de novo num cinema, sujeito a ouvir algum absurdo proferido por um sem-noção de merda qualquer perto de mim. Porque eu comprei um DVD pirata em Bonsucesso, botei quatro reais no bolso de um fodido que não conseguiu emprego decente mas que não tá roubando, tá correndo atrás do dele. Por mais chavão de moleque-de-bala-em-ônibus que isso possa ser. E cá entre nós, honestamente. Quem não usar soft pirata que atire a primeira pedra nele e em mim.

É pena que filme tão bom tenha tocado na questão das drogas, principalmente a maconha, através do ponto de vista pessoal do André Batista, co-autor do livro e fonte de inspiração pro Matias. Foi ele quem estudou na PUC e encarou aquelas situações. Que acontecem igualzinho, sem tirar nem pôr, na Unisuam, em Bonsucesso, na Gama Filho, em Pilares, no CIEP da Lagoa ou no de Vaz Lobo, no colégio mais tradicional ou mais bordel. Porque a venda e o consumo, ao contrário do que e elite míope pensa, são hoje intrínsecas à toda e qualquer socieadade, rica ou pobre, carioca ou européia. Fuma-se mais maconha no subúrbio, cheira-se mais coca na Zona Sul. É a única diferença mais perceptível. O consumo de drogas vai do ricaço aqui do lado ao trocador de ônibus que mora na Mangueira e rala pra caralho pra sustentar a família.

Não é a droga que fode nossa sociedade. São a desigualdade e a hipocrisia, que andam de mãos dadas no calçadão de Ipanema ou Leblon. Mesmo calçadão onde o rico desfila, o moleque do Nike se sente falsamente inserido... e onde o surfistinha compra a droga que quiser com o hippie das cangas.

Mas a culpa de toda essa merda é do maconheiro, claro.