domingo, 10 de fevereiro de 2008

Hitler; Stalin, Mussolini, Pol Pot e Pinochet; Suharto, Franco, Fidel e Saddam; Ceausesco e... Chávez?

Qual o real conceito de ditadura, essa é a grande questão.

Hitler foi o responsável direto pela morte de seis milhões de judeus. Mas seu ideal totalitário não chegou ao poder com um golpe de Estado.

Então, de uma maneira ou de outra, afirmar que não há uma ditadura na Venezuela porque Chávez não deu um golpe, foi "eleito pelo povo", é a visão de um só prisma do conceito. E todo conceito tem muitos.

Na Venezuela, as eleições são um eufemismo. Nem seria preciso um partido único e oficial. Chávez tem formas mais sutís de minar o sistema em prol da manutenção de seu poder. Ele usa o próprio mecanismo da democracia formal para isso. Mas nem sempre dá certo.

Vejam só: Chávez propôs à população, em plebiscito, (a) a manutenção da democracia ou (b) a adoção de uma nova Constituição, de caráter totalitário, que, se aprovada, daria a ele o poder ditatorial e vitalício.

???

E Chávez não é um ditador? Onde?

Perguntar a um povo se ele deseja ceder seus poderes constitucionais a alguém é um absurdo conceitual. As consultas em plebiscito são legítimas quando arbitram conflitos ou questões dentro da própria sociedade – como o desarmamento por aqui - e, nunca, nunca na história do mundo, para transferir poderes fundamentais do povo para seu governante.

Como bom ditador, a primeira reação de Chávez foi negar a derrota. A segunda, inevitável, admití-la. A terceira, previsível, afirmar que "realizaria nova consulta ao povo assim que possível".

A vitória do NÃO na Venezuela se deu por apenas 1,5%. O alto índice de abstenção - 44% - se deveu, em grande parte, ao pouco comparecimento às urnas do venezuelano morador de regiões pobres e cidades do interior, os maiores redutos de Chávez. E onde o ditador mais gasta grana do petróleo levando eleitores no colo até os pontos de votação. Mas não deu. Ele se fodeu porque esse venezuelano tá na merda há nove anos, tempo em que ele está no poder. E, pra ele, tudo só piorou.

Foram quatro "eleições" nesse período. Em 2002, Chávez foi vítima de uma tentativa de golpe de estado. O então ministro da Defesa, Raúl Baduel, foi quem garantiu a manutenção dele no poder. Mas Baduel agora preferiu aderir à campanha do NÃO para impedir a legitimação pelas urnas de uma ditadura.

Meu prisma preferido sobre a ditadura?

Bem, os assassinatos dos jornalistas Mauro Marcano e Jorge Tortoza, opositores do governo de Chávez, continuam sem solução.

A nova lei de imprensa do país pune com o fechamento imediato qualquer meio de comunicação que transmita "conteúdos contrários à segurança nacional". E cadeia.

(O texto da lei, quase inacreditável, está em http://www.asambleanacional.gov.ve/ns2/leyes.asp?id=559. Só um pedacinho: "Artículo 147. Quien ofendiere de palabra o por escrito, o de cualquier otra manera irrespetare al Presidente de la República o a quien esté haciendo sus veces, será castigado con prisión de seis a treinta meses si la ofensa fuere grave, y con la mitad de ésta si fuere leve.")

Chávez ainda fica no poder até 2013, se os americanos deixarem. Mas serão no máximo mais cinco anos para ele tombar, como vai tombar Fidel em breve e como tombaram todos os ditadores.

E pensar que se o SIM tivesse ganho, talvez os netos dos que agora votaram ainda estivessem sob o poder do ditador, daqui a, hmmm, q-u-a-r-e-n-t-a anos. Que tal? Nascer ou morrer sob uma ditadura?